Frente aos riscos da estratégia bolsonarista de dividir os trabalhadores para melhor derrotá-los erguendo uma muralha da China entre a base sindical organizada e os milhões de trabalhadores informais, subutilizados, aposentados e desempregados o movimento sindical deve reforçar sua unidade de ação, manter a sua agenda prioritária, mas adotar também a linha Mano Brown para falar com a “periferia” do movimento e ser ouvido por ela.
Que a intenção do novo governo é erguer a muralha da China fica evidente com as propostas de uma nova carteira de trabalho “verde e amarela”, da pluralidade sindical anárquica e individualista, da pressão pelo fim da contribuição sindical coletiva e pela proposta de pagamento de uma 13ª parcela do Bolsa Família com recursos decorrentes da supressão do abono salarial.
Para efetivar a linha Mano Brown as centrais sindicais, as confederações e federações dos trabalhadores e os sindicatos devem priorizar, no curto prazo, três propostas de resistência e de luta capazes de falar com a “periferia” e de serem ouvidos por ela sem prejuízo de continuarem defendendo a agenda prioritária de 22 pontos que é a expressão unitária do movimento organizado.
A primeira luta, a mais imediata e abrangente, é a resistência à deforma previdenciária, seja a de Temer, seja a de Bolsonaro.
Nossa experiência recente ao comparar a resistência à deforma trabalhista com a resistência à deforma previdenciária nos demonstra que, neste último tema, somos ouvidos com clareza por todos os trabalhadores, sejam sindicalizados, sejam empregados formais, sejam informais, aposentados ou desempregados.
A deforma previdenciária é um terceiro trilho do metrô que eletrocuta quem o pisa e as centrais já firmaram posição unitária contra sua discussão ainda este ano.
A segunda luta é pela manutenção da política de valorização do salário mínimo cujos efeitos vão muito além dos limites do movimento sindical organizado (que se apoia em pisos profissionais). Foi conquistada depois de inúmeras marchas das centrais sindicais a Brasília, sendo reconhecidamente a maior negociação salarial do mundo abrangendo milhões de trabalhadores, aposentados e pensionistas.
A terceira luta é pela reivindicação emergencial do passe gratuito para os desempregados nos transportes públicos das capitais e das grandes cidades (todas as que admitem segundo turno nas eleições). Na capital de São Paulo, por exemplo, este direito é lei, mas não foi regulamentado e não vigora.
Nosso esforço deve se orientar às prefeituras, regiões metropolitanas, Estados e até mesmo ao governo federal com a possibilidade de subsídios.
Sem abandonar a pauta prioritária devemos dar peso imediato a essas três lutas e aplicar, com experiência, unidade e bom senso, a linha Mano Brown com a força do povo.
João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical