A pauta do momento – e esperamos que siga assim até sua resolução positiva e vitoriosa para as trabalhadoras e trabalhadores – é aquela que se convencionou denominar #fimdaescala6x1. Reaviva a luta pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários e, diferentemente de 2013, quando o vértice apontava para o Estado em geral e o Governo em particular, dessa vez mira a relação Capital X Trabalho e deve garantir empenho, protagonismo e liderança dos sindicatos, movimentos sociais e partidos democráticos para ensejar rumo correto e resultado favorável.
Porém, cabe nesse movimento geral das coisas, tirar um tempo para a reflexão sobre o trabalho 6×1 na atividade docente (e educacional, por que não dizer), mais especificamente para a invisibilidade das jornadas as quais são submetidos educadores, notadamente aqueles vinculados às redes públicas de ensino. Não bastasse a situação de três turnos, perfazendo 60h semanais, decorrente dos baixos salários percebidos, a jornada antes extensa, hoje se apresenta – graças à introdução massiva e maciça das novas tecnologias informáticas e de práticas gerenciais de gestão – intensa, múltipla e simultânea, extrapolando o ambiente de trabalho e invadindo o lugar e o momento dos trabalhadores em educação no lar, interferindo nas suas outras atividades e necessidades
Estudos, planejamentos, preparação de avaliações, correção de trabalhos escolares, cursos, formações e lives, preenchimento de planilhas, relatórios e pareceres, lançamentos de notas, etc, compõe uma miríade de responsabilidades e excessos cujas consequências tem sido similares àquelas sofridas pelos demais trabalhadores: exaustão, adoecimento, desistência (burnout ou “presentismo”), nenhuma qualidade de vida, negação do convívio familiar ou da fruição do descanso, do lazer do bem estar.
Agrava-se tal situação porque ao contrário do trabalho realizado por motoboys, atendentes, motoristas de aplicativo, entre outros, o trabalho docente para além da jornada formal acontece em âmbito doméstico, longe dos olhos, quase que solitário, nos fundos de uma peça onde se amontoam livros, diários de classe, provas, reunidos junto à uma pequena escrivaninha e um computador. Invisível e invisibilizado: o afazer e o indivíduo.
As gestões – cada vez mais tecnocráticas para para parecerem eficientes e incontestes e autoritárias para se valerem ameaçadoras e punitivas – ignoram proposital e solenemente essa relação abusiva. Na base, os já citados baixos salários que obrigam à ampliação da jornada; no meio, o cansaço como política para a domesticação e apagamento dos sujeitos em sua disposição de lutas; ao fim e ao cabo, a explosão dos casos de doenças físicas e transtornos psíquicos de sofrimento e dor.
Que na esteira do debate, mobilização e luta pelo #fimdaescala6x1 se deite um olhar atento ao mundo do trabalho educacional e possamos discutir temas caros à categoria dos trabalhadores em educação e à função educativa como pertinente e urgente a muitos milhões de cidadãos, sejam aqueles que se dedicam como profissionais ou outros que têm na escola pública o seu lugar e oportunidade de vida. E que se veja com o devido mérito essa questão subjacente: a do trabalho “Invisível” dos educadores, suas razões e impactos na qualidade da educação e na vida de professoras e professores.
Alex Saratt, diretor do Cpers, da CNTE e da CTB.