O que aconteceu durante esse ano que antecedeu o 1º de maio foi muito diferente de tudo o que já se viveu nas últimas décadas. A crise sanitária inédita na velocidade de propagação e de contaminação travou a economia no mundo, obrigando-nos a realizar o isolamento e o distanciamento social para fugir da morte. Foi um ano difícil porque as consequências foram a recessão, o desemprego, o medo e a insegurança. Foi um ano duro porque foi preciso ganhar tempo para aprender a enfrentar a covid-19, para descobrir vacinas em tempo recorde e começar a imunização de 7,7 bilhões de pessoas em um mundo profundamente desigual. Muito desse drama perdurará até o 1º de maio do próximo ano. Portanto, há muita luta pela frente.
No Brasil esse foi um ano radicalmente diferente, estupidamente difícil e duro. Isso porque o governo Bolsonaro agravou a tragédia com a intencional descoordenação, o negacionismo, os péssimos exemplos e horríveis iniciativas. Um excelente quadro sintético dos impactos da crise sanitária sobre o mundo do trabalho no Brasil é apresentado pelo Dieese no estudo “Especial primeiro de maio”, disponível em www.dieese.org.br.
Nesse quadro complexo, as centrais e as entidades sindicais atuaram, sempre respeitando e promovendo os protocolos de proteção social. Foi muito mais difícil estar nas ruas e nos locais de trabalho com os cuidados necessários. A atuação ganhou novos campos. Desde as ações de solidariedade, com recolhimento de alimentos e distribuição de cestas básicas; o uso dos carros de som para esclarecer a população; o apoio com estrutura física e equipe médica para assistir os trabalhadores. O sindicalismo reorganizou e implementou reuniões, encontros, debates e assembleias virtuais, passou a fazer consultas e negociações coletivas pela internet, entre inúmeras outras iniciativas.
Na atuação nacional propuseram, em fevereiro de 2020, o Abono Emergencial correspondente ao valor da cesta básica calculada pelo Dieese, aprovado pelo Congresso como Auxílio Emergencial de R$ 600, que assistiu mais de 70 milhões de pessoas e garantiu demanda para girar a economia. Apresentaram medidas para a proteção dos empregos e dos salários, melhorias no seguro-desemprego, apoio e crédito às micro e pequenas empresas, entre outras propostas.
Diante da intencional ausência de coordenação nacional pelo governo federal para o enfrentamento da pandemia, as Centrais Sindicais atuaram junto aos governadores e prefeitos, parlamentares e partidos políticos, propondo iniciativas de articulação, cooperação e coordenação da batalha de combate à pandemia. Apoiaram as iniciativas de governadores e prefeitos para produzir e comprar vacinas, estabelecer mecanismos de cooperação por meio de consórcios, entre tantas outras iniciativas.
Neste 1º de maio as Centrais Sindicais indicam que a proteção da vida é a nossa maior prioridade. Para proteger a vida e reativar a economia, vacina para todos já e auxílio emergencial de R$ 600 enquanto durar a pandemia. Fortalecer o SUS, proteger os profissionais da saúde e dos serviços essenciais são medidas fundamentais.
A prioridade do emprego começa protegendo-o com medidas de sustentação dos salários e manutenção dos postos de trabalho, assim como com crédito e assistência às micro, pequenas e médias empresas.
A democracia foi e continua sendo atacada e desqualificada pelo presidente. Cabe-nos a defesa intransigente do Estado Democrático de Direito, das instituições que o compõem, do cumprimento das suas atribuições e responsabilidades e defesa da liberdade.
Vamos dar um basta à estupidez, à ignorância, ao autoritarismo e aos descalabros desse governo.
Seguir, mudando e tomando outro caminho. A tarefa, desde já, é formular um projeto nacional de desenvolvimento para o país, que recoloque a perspectiva da justiça social e da sustentabilidade ambiental, a geração de emprego, o incremento da produtividade, a distribuição de renda e a inserção soberana do país no mundo como eixos articuladores do projeto. Elaborar uma estratégia de desenvolvimento que recoloque a nação com a coluna ereta, com o olhar para o futuro enxergando o caminho a ser seguido e com as mãos no presente para coletivamente construí-lo.
Clemente Ganz Lúcio é sociólogo, assessor do Fórum das Centrais Sindicais e consultor sindical. Foi técnico do DIEESE de 1984 a 2020 e Diretor Técnico de 2004-2020. Foi membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – CEDES, do Conselho da Sociedade Civil do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, do Conselho do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – CGEE; é membro do Conselho de Altos Estudos do TCU.
Leia também:
O sindicalismo que investe na inovação da luta; por Clemente Ganz Lucio