PUBLICADO EM 31 de jul de 2020

Chico Cesar canta ‘Inumeráveis’; música

A letra de ‘Inumeráveis’ de Chico Cesar mostra que os mortos da pandemia não são números. São vidas, com sonhos, projetos e história. Se números não tocam a gente, espero que nomes consigam tocar, diz o poeta.

Chico Cesar, cantor e compositor brasileiro

Chico Cesar, cantor e compositor brasileiro

A canção “Inumeráveis”, interpretada por Chico César e escrita a partir de um poema de Bráulio Bessa, é um tributo comovente às vítimas da pandemia de Covid-19 no Brasil. Mais do que uma enumeração de perdas, a letra nos lembra, com poesia e respeito, que cada pessoa que se foi tinha um nome, uma história, afetos, sonhos interrompidos.

Ao longo da música, Chico César canta vidas singulares: um professor querido, uma paratleta vencedora, uma avó que fazia sorvete de manga no quintal. Cada estrofe é um ato de memória, um esforço para romper a frieza dos dados estatísticos que desumanizaram o luto coletivo. Em vez de números, rostos e nomes. Em vez do silêncio imposto pela indiferença, a arte como denúncia e homenagem.

A repetição do verso “Se números frios não tocam a gente, espero que nomes consigam tocar” é um chamado à empatia em tempos de brutalização da vida. É também um grito contra o esquecimento. A música não deixa que essas histórias desapareçam no vácuo das planilhas oficiais. Ela devolve humanidade aos que partiram — e um espelho incômodo aos que ficaram.

 

Inumeráveis
(Composição: Chico Cesar, a partir de poema de Bráulio Bessa:/2020)
Intérprete: Chico Cesar

André Cavalcante era professor

amigo de todos e pai de Pedrinho

O Bruno Campelo seguiu se caminho

Tornou-se enfermeiro por puro amor

Já Carlos Antônio, era cobrador

Estava ansioso pra se aposentar

A Diva Thereza amava tocar

Seu belo piano de forma eloquente

Se números frios não tocam a gente

Espero que nomes consigam tocar

Elaine Cristina, grande paratleta

fez três faculdades e ganhou medalhas

Felipe Pedrosa vencia as batalhas

Dirigindo über em busca da meta

Gastão Dias Junior, pessoa discreta

na pediatria escolheu se doar

Horácia Coutinho e seu dom de cuidar

De cada amigo e de cada parente

Se números frios não tocam a gente

Espero que nomes consigam tocar

Iramar Carneiro, herói da estrada

foi caminhoneiro, ajudou o Brasil

Joana Maria, bisavó gentil.

E Katia Cilene uma mãe dedicada

Lenita Maria, era muito animada

baiana de escola de samba a sambar

Margarida Veras amava ensinar

era professora bondosa e presente.

Se números frios não tocam a gente

Espero que nomes consigam tocar

Norberto Eugênio era jogador

piloto, artista, multifuncional

Olinda Menezes amava o natal.

Pasqual Stefano dentista, pintor

Curtia cinema, mais um sonhador

Que na pandemia parou de sonhar

A vó da Camily não vai lhe abraçar

com Quitéria Melo não foi diferente

Se números frios não tocam a gente

Espero que nomes consigam tocar

Raimundo dos Santos, um homem guerreiro

O senhor dos rios, dos peixes também

Salvador José, baiano do bem

Bebia cerveja e era roqueiro

Terezinha Maia sorria ligeiro

cuidava das plantas, cuidava do lar

Vanessa dos Santos era luz solar

mulher colorida e irreverente

Se números frios não tocam a gente

Espero que nomes consigam tocar

Wilma Bassetti vó especial

pra netos e filhos fazia banquete

Yvonne Martins fazia um sorvete

Das mangas tiradas do pé no quintal

Zulmira de Sousa, esposa leal

falava com Deus, vivia a rezar.

O X da questão talvez seja amar

por isso não seja tão indiferente

Se números frios não tocam a gente

Espero que nomes consigam tocar

Fonte: Centro de Memória Sindical

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