Regina Cavalcanti é doceira de mão cheia, moradora do Bairro Alto, em Curitiba (PR), e há quase dois anos vende sua produção artesanal para amigos e vizinhos. A cozinheira também é mãe de uma filha e divide as contas de casa com o marido. Entre o trabalho na casa e o investimento na loja de doces, Regina tenta vencer o orçamento mensal, mas agora tem de lidar com um inimigo comum para a maioria dos brasileiros: a inflação.
”Os preços subiram demais, o preço do trigo, do açúcar… Do pão, nem se fala”, relata. E é justamente esse alimento essencial, como o arroz e o feijão, que vem sofrendo um dos maiores reajuste de preços, de acordo os dados de setembro da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA), do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese). O aumento foi sentido em quatorze capitais, com a variação chegando a quase 3% em Brasília.
Regina ainda relata que apesar dos valores já estarem altos, na pandemia, tem sido cada vez mais difícil sair com o carrinho cheio do supermercado para as compras de casa e para os negócios. ”Antigamente a gente ia no mercado e fazia a compra do mês com 400 reais, hoje com menos de 700 reais não sai de lá. Um saco de pão de 1 quilo saía a 3, 4 reais, agora para achar por 6 reais tem que ser uma superpromoção, está um absurdo”.
Em alguns supermercados de Curitiba, o preço pode chegar até a mais de 12 reais o quilo. Além do aumento de custos de insumos, como energia elétrica, o trigo importado ficou mais caro com a subida do dólar. Mesmo com o Paraná sendo o maior produtor do cereal no país, metade do que é usado para alimentação é importada. Atualmente, com o dólar sendo negociado a mais de 5,40 reais, o preço da saca de trigo, levando em consideração os valores da bolsa de Chicago, chega a mais de 7 dólares, o que faz com que custe no Brasil perto de 40 reais.
Mohamad Majzoub, dono de uma fábrica de panificação na Região Metropolitana de Curitiba, conta que, no seu caso, os custos de produção fizeram o valor de um quilo de pão francês sair da casa dos 3 reais para mais de 8. ”Pão é indicador brasileiro, é um produto extremamente produzido todos os dias. Se você pegar no ano passado, meu custo de produção era de 3,75 reais por quilo, hoje sai por 8 reais. Os custos da farinha e da gordura aumentaram, além de outros insumos que são importados e aumentaram muito com o dólar alto.”
Além dos ingredientes alimentícios, Majzoub relata que os valores do gás e energia elétrica também impactaram os preços. ”Temos que lidar hoje com um valor muito alto no gás e na energia elétrica. Além disso, todo o empresário que valoriza seu funcionário teve que dar um aumento, porque um funcionário que ganhava 1.200 reais no ano passado teve muita inflação de um ano para outro’’, reflete.
Cesta básica
De acordo com a pesquisa do Dieese, o valor da cesta básica aumentou em 11 cidades, sendo as maiores altas registradas em Brasília (3,88%), Campo Grande (3,53%), São Paulo (3,53%) e Belo Horizonte (3,49%). Curitiba, por exemplo, tem alta de 13% no acumulado de 2021, com a cesta a 610,85 reais. Em um ano, o valor é 16% maior em comparação a 2020.
Fonte: BdF Paraná