As principais centrais sindicais do Brasil divulgaram uma nota conjunta nesta sexta-feira (10) intitulada criticando a decisão da Meta, de Mark Zuckerberg, que visa desregulamentar a checagem sobre informações nas redes sociais. A manifestação, assinada por líderes de nove centrais sindicais, denuncia o que descrevem como práticas autoritárias e desregulamentadas dessas empresas, além de alertar para os impactos negativos dessas ações na democracia brasileira e global.
No texto, os sindicalistas destacam que decisões unilaterais, como as tomadas por Mark Zuckerberg, proprietário da Meta, resultam em uma maior disseminação de desinformação e discursos de ódio, favorecendo o crescimento de movimentos extremistas. Eles citam exemplos históricos, como o uso indevido de dados de usuários do Facebook em processos eleitorais nos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil, conforme documentado em produções como Privacidade Hackeada e livros de autores como Patrícia Campos Mello e Julian Assange.
Além de apoiar medidas regulatórias já em andamento pelo Governo Federal e pelo Supremo Tribunal Federal, a nota conclama trabalhadores e a sociedade civil a se unirem em defesa de uma regulação que proteja os interesses coletivos e a soberania digital, em detrimento dos interesses de grandes corporações.
Confira a íntegra da Nota das Centrais Sindicais
Pela soberania nacional, contra o imperialismo midiático
Nós, centrais sindicais, repudiamos a postura do dono da empresa de comunicação Meta, que, à exemplo do dono do X (devidamente punido pela justiça brasileira), tenta atropelar a legislação e a soberania dos países onde a empresa opera.
Mark Zuckerberg é dono de um verdadeiro império que, ao lado de poucas empresas, como o Google e o X, monopoliza o sistema de informação e comunicação internacional, uma condição de autoritarismo que contradiz a alegada “liberdade de expressão”.
Sua decisão pessoal, unilateral e baseada em interesses privados, atinge de forma irresponsável populações de países inteiros. A maior desregulamentação das redes sociais da empresa Meta (Facebook, Instagram, Threads) aumentará a propagação de notícias falsas e discursos de ódio, o que, por sua vez, incentiva a organização de grupos terroristas, extremistas, criminosos e que usam a violência para impor seus propósitos.
Isso já foi registrado no documentário “Privacidade Hackeada” (Karim Amer e Jehane Noujaim, 2019), que revela o uso ilegal de dados do Facebook de pelo menos 87 milhões de pessoas em campanhas para o referendo do Brexit, no Reino Unido, na eleição do presidente Trump em 2016, nos Estados Unidos, e na eleição de Jair Bolsonaro, no Brasil. O tema é abordado no livro “A Máquina do Ódio” (2020), no qual a autora, Patrícia Campos Mello, demonstra como, influenciados pelas redes sociais, eleitores tendem a valorizar políticos extremistas. E o jornalista e ativista Julian Assange também expôs claramente no livro “Quando o Google Encontrou o WikiLeaks” (2014) o sistema de controle político que as empresas que dominam a internet possuem.
Torna ainda pior a situação o fato de as medidas anunciadas pelo dono da Meta estarem atreladas ao novo governo de Donald Trump, um notório extremista de direita que despreza o bem-estar da população.
Em um cenário de crescente influência das redes sociais e da Inteligência Artificial, é imperativo fortalecer a regulação, proteger os dados pessoais e garantir a confiabilidade das informações que circulam. Apoiamos as medidas do Governo Federal e do Supremo Tribunal Federal como passos essenciais para a preservação da soberania nacional. Contudo, essa luta exige a participação ativa de todos: trabalhadores, entidades sindicais e a sociedade civil devem se unir para exigir transparência, responsabilidade e um ambiente digital que promova os interesses coletivos, não apenas os das grandes corporações. Apenas assim conseguiremos proteger nossa democracia e construir um futuro mais justo e soberano.
São Paulo 10 de janeiro de 2025
Sérgio Nobre, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores)
Miguel Torres, presidente da Força Sindical
Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)
Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
Moacyr Tesch Auersvald, presidente da NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores)
Antonio Neto, presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros)
Nilza Pereira, secretária-geral da Intersindical Central da Classe Trabalhadora
Emanuel Melato, Coordenador da Intersindical – Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora
José Gozze, presidente da Pública Central do Servidor