A já conhecida desarticulação política do governo de Jair Bolsonaro (PSL) no Congresso segue em marcha. Nos últimos dias, diante da falta de organização do Executivo para articular a aprovação de medidas provisórias de seu interesse prestes a perder o prazo de validade, a crítica, mais uma vez, veio de um aliado. “Sou líder do PSL no Senado e não recebo sequer uma nota técnica do governo falando sobre as teses a serem defendidas. Não sei os outros líderes, mas não recebo nada. Não recebemos nem alerta sobre a importância dos projetos. Se fazem isso comigo, que sou aliado, imagine com os demais”, afirmou o senador Major Olímpio (PSL-SP) ao site Congresso em Foco.
A falta de articulação do governo no Congresso e, mesmo com o próprio partido do presidente, chama a atenção da cientista política Roseli Coelho, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política. Para ela, o PSL é como “um ônibus que recrutou, de última hora, os oportunistas mais espertos”, e insere nesse contexto a escolha do senador paulista como líder do partido no Senado, um posto que demanda habilidade de negociação, mesmo sendo Major Olímpio uma pessoa conhecida por sua truculência.
“Talvez seja melhor que o governo não comunique, não mantenha ele instruído devidamente do que vai ser votado, porque ele é um ‘elefante numa loja de cristais’. Ficaria pior ainda ele ter que negociar, ele não sabe fazer isso”, pondera Roseli, em entrevista aos jornalistas Glauco Faria e Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.
Sobre os editoriais da mídia tradicional e algumas vozes do mundo político e econômico que passaram a pronunciar a palavra “impeachment” no último mês, a cientista política avalia o movimento como um erro, inclusive para o campo progressista. Segundo a professora, falta à esquerda “uma pauta” caso o processo de impeachment seja iniciado. “O cenário político poderia ficar ainda pior com o impeachment, e também a economia. O povo e os trabalhadores, em geral, sofreriam mais ainda”, afirma Roseli. Para ela, esse tipo de tema, neste momento, só favoreceria o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
“As más ou boas línguas dizem que ele gostaria de passar rapidinho para o parlamentarismo, deve ser um sonho dele”, diz. Do ponto de vista da agenda anti-direitos que interessa ao governo e ao mercado, ela lembra que Maia tem tido uma atuação eficiente, desde a aprovação da “reforma” trabalhista na gestão Temer. “Ele está se saindo bem ‘pilotando’ esse parlamento que defende os interesses das elites. Todo mundo diz que ele sonha ser o primeiro-ministro.”
Fonte: Rede Brasil Atual