Por José Carlos Ruy
Trechos do primeiro e mais famoso livro de Carolina Maria de Jesus (“Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”) foram publicados inicialmente na revista “O Cruzeiro”, em 1958, em reportagem onde Audálio Dantas revelou ao mundo esta escritora extraordinária.
Em 1960, foi publicado o livro que logo se transformou num best-seller brasileiro e mundial – a tiragem inicial foi de dez mil exemplares e se esgotou em uma semana. Desde então vendeu mais de um milhão de exemplares, tendo sido traduzido para catorze idiomas e publicado em 40 países.
Um sucesso mundial para uma escritora negra, de origem humilde, moradora da favela do Canindé, em São Paulo e que ganhava a vida como empregada doméstica e catadora de papelão e outros materiais.
Nascida em Sacramento (MG), em 1914, fequentou a escola formal até o 2º ano do curso primário, e, desde muito menina, gostava de ler e escrever. Menina pobre, lia o que dava e estava a seu alcance. Tinha 23 anos quando a mãe morreu. Mudou-se então para São Paulo, onde trabalhou como doméstica. Dez anos depois, fixou-se na favela do Canindé. Ela registrava, em cadernos manuscritos, seu cotidiano de trabalhadora, favelada, mãe solteira.
Em um desses cadernos estava o original do livro que a tornaria famosa – “Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada”, descoberto por Audálio Dantas quando fazia uma reportagm sobre as favelas em São Paulo.
“Quarto de Despejo” é o registro sesível, em linguagem direta e clara, dos problemas, sonhos e ansiedades que fazem parte da vida do povo.
É uma grande obra literária que rompe todos os preconceitos, de raça e de classe, vividos e enfrentados pela autora: é voz própria da vida e do cotidiano dessa mulher negra e pobre e sua luta por uma sobrevivência digna.