Com o aumento alarmante das temperaturas globais, o secretário-geral da ONU destacou como uma das prioridades a proteção dos trabalhadores.
Dados da Organização internacional do Trabalho, OIT, apontam que 70,9% da força de trabalho do planeta está sob risco de vivenciar calor excessivo.
O diretor da OIT no Brasil, Vinicius Pinheiro, afirmou que “o clima já mudou” e que por isso é preciso adotar medidas adaptativas que permitam viver e trabalhar dentro desta nova realidade.
Aumento de doenças infecciosas e crônicas
Em entrevista para a ONU News, ele citou os principais impactos das mudanças climáticas na saúde dos trabalhadores brasileiros.
“A maior parte das licenças relacionadas às ausências de saúde no primeiro semestre desse ano tiveram relação com enfermidade causada em especial pela dengue. Então isso é uma consequência direta das mudanças climáticas. Outro ponto relacionado a um efeito no mercado trabalho é a questão do câncer de pele. Hoje a gente sabe que dois em cada três casos de câncer de pele são relacionados com a exposição ao sol, em especial à radiação ultravioleta, no ambiente de trabalho”.
Além do aumento de doenças transmitidas por vetores e casos de câncer, o representante da OIT citou ainda a “ameaça silenciosa” das doenças cardiovasculares e respiratórias intensificadas pelo aumento das temperaturas.
Ele destacou que os profissionais que estão mais expostos aos riscos no Brasil são aqueles que trabalham ao ar livre, com maior exposição ao sol e às radiações.
Maior risco na agropecuária, limpeza e transporte
“E aí você tem o trabalho agropecuário, o trabalho de limpeza urbana, trabalho na área de transporte. Isso em geral, são cerca de 20 milhões de pessoas que estão nessas condições. Então, essas são categorias que tem que passar por uma certa adaptação nas condições de trabalho, que tem a ver, claro, com utilização dos equipamentos apropriados, mas também com, com a adequação nas jornadas de trabalho, para que elas não coincidam com picos de sol, com picos de calor”.
Pinheiro mencionou que os catadores de lixo em particular são considerados “uma das categorias mais vulneráveis ao estresse térmico”.
De acordo com ele, o grupo tem um histórico positivo de cooperativismo em temas como reciclagem e pode se beneficiar caso essa organização seja direcionada para o uso de medidas protetivas.
O diretor da OIT no Brasil disse que esse é um tema que ainda requer mais debate e conscientização.
Nesse sentido, uma nova campanha da OIT, lançada no final de julho no marco da parceria Entre Brasil e Estados Unidos para os direitos dos trabalhadores, pode fazer a diferença.
Conscientização e transferência de tecnologia
A iniciativa, de acordo com Pinheiro, busca o cumprimento e realização do direito a ambientes de trabalho seguros e saudáveis, especialmente no contexto da mudança climática.
Esse direito foi definido por trabalhadores e governos como um dos direitos fundamentais da OIT, juntamente com o combate à discriminação, ao trabalho infantil e trabalho escravo, e a promoção da liberdade de associação e barganha.
O representante da OIT disse que o Brasil tem um sistema de regulamentação bastante avançada de medidas protetivas.
No entanto, as estratégias muitas vezes “não alcançam a economia informal”, que é onde estão grande parte trabalhadores que estão sujeitos às “condições nefastas”.
Pinheiro defendeu a necessidade de um trabalho maior de formalização, para assim chegar a quem mais precisa, que são as pessoas mais expostas a esses riscos extremos.
O esforço da nova campanha adoção de políticas nos âmbitos nacionais, mas também empresariais.
Para Pinheiro, alguns pontos cruciais que estão no “cerne” da iniciativa são a conscientização dos riscos e a disseminação de equipamentos capazes de mitigar os efeitos do calor, o que envolve transferência de tecnologia.
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