Hoje, 2021, o Brasil vive sob um governo de extrema direita, assolado pela pandemia do coronavírus e com o inusitado e nefasto encontro do desemprego com a inflação. Neste contexto antissocial a violência cresce como política de Estado, aterrorizando os mais vulneráveis.
Dito isso, parece até ironia quando Caetano diz que “gente é muito bom” e “tem de se cuidar e de se respeitar o bom”. Quando diz que “gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”.
Parece ironia quando, ao mesmo tempo em que ouvimos essa letra inspiradora, a realidade mostra a jovem Kathlen de Oliveira Romeu, grávida, simpática, trabalhadora, talentosa, solar, negra e pobre, daquela gente pobre que arranca a vida com a mão e que queria prosseguir durar, crescer, luzir, morta sem sentido algum, em mais um tiroteio entre policiais e criminosos no Rio de Janeiro.
Fica claro, porém, que Caetano está certo, e a realidade está torta.
Gente
(Composição: Caetano Veloso/1977)
Intérprete: Caetano Veloso
Gente olha pro céu
Gente quer saber o um
Gente é o lugar
De se perguntar o um
Das estrelas se perguntarem se tantas são
Cada, estrela se espanta à própria explosão
Gente é muito bom
Gente deve ser o bom
Tem de se cuidar
De se respeitar o bom
Está certo dizer que estrelas
Estão no olhar
De alguém que o amor te elegeu
Pra amar
Marina, Bethânia, Dolores,
Renata, Leilinha,
Suzana, Dedé
Gente viva, brilhando estrelas
Na noite
Gente quer comer
Gente que ser feliz
Gente quer respirar ar pelo nariz
Não, meu nego, não traia nunca
Essa força não
Essa força que mora em seu
Coração
Gente lavando roupa
Amassando pão
Gente pobre arrancando a vida
Com a mão
No coração da mata gente quer
Prosseguir
Quer durar, quer crescer,
Gente quer luzir
Rodrigo, Roberto, Caetano,
Moreno, Francisco,
Gilberto, João
Gente é pra brilhar,
Não pra morrer de fome
Gente deste planeta do céu
De anil
Gente, não entendo gente nada
Nos viu
Gente espelho de estrelas,
Reflexo do esplendor
Se as estrelas são tantas,
Só mesmo o amor
Maurício, Lucila, Gildásio,
Ivonete, Agripino,
Gracinha, Zezé
Gente espelho da vida,
Doce mistério
Fonte: Centro de Memória Sindical