Por Fátima Chuecco
Em 27 de janeiro de 1945 chegava ao fim o maior complexo de extermínio de judeus pelos nazistas, o Auschwitz, onde morreram 1,1 milhão de pessoas em câmaras de gás, de fome, por doenças e fuzilamento. Há exatos 75 anos o exército soviético invadiu Auschwitz libertando todos os prisioneiros. Por isso a ONU declarou 27 de janeiro como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
Essa parte triste da história todos conhecem, mas um outro lado sombrio, que se refere ao extermínio dos animais dos judeus, pouco foi explorado. Cães e gatos foram executados na frente dos tutores, abandonados dentro das casas, escondidos em porões, levados para morte induzida e, com alguma sorte, clandestinamente acolhidos por famílias não judias. É provável ainda que cães e gatos tenham servido para testar as câmaras de gás antes do genocídio ter início e que tenham servido a experimentos médico-científicos pelos nazistas.
Mas alguns judeus reencontraram seus amigos animais em circunstâncias que parecem verdadeiros milagres. É o caso de Kathy Rubin e seu cão Bogar que constam do livro “Amigos fiéis: histórias de sobreviventes do holocausto sobre seus animais de estimação”. “A obra reúne relatos de homens e mulheres que eram crianças durante a Segunda Guerra Mundial. Eles contam como perderam pais, irmãos e amigos nos campos de concentração e como os animais lhes deram conforto e coragem criando uma conexão, ainda que em pensamento, com tempos mais felizes, ajudando-os a não perderem a esperança”, diz a autora Susan Bulanga que fez a gentileza de enviar a ANDA um trecho comovente do relato de Kathy.
Relato de judia que reencontrou seu cão
“Os soldados entraram nas casas e disseram a todos para se prepararem para sair. Só era permitido levar uma mala cada. Corremos para pegar algumas roupas e outras coisas enquanto os soldados agitavam seus rifles nos ameaçando. Ouvimos tiros à distância”.
“Assim que estávamos alinhados na rua, fomos levados para o gueto. Não tivemos aviso nem tempo para fazer provisões para nós mesmos ou para Bogar. Só tivemos tempo de deixar Bogar livre do lado de fora. Orei a Deus para que ele estivesse seguro. Mas, para meu horror, quando olhei em volta, vi que Bogar estava nos seguindo até o gueto!”
“Vá para casa!” – gritei – “Vá para casa, Bogar”, mas ele não o fez.
“Os cães não eram permitidos no gueto, então, quando passamos pelos portões, os soldados perseguiram Bogar, tentando atingi-lo. Tentei correr de volta para ir até ele, mas meu pai me segurou pelo braço. Eu nunca me senti tão desamparada”.
Kathy narra que ela e a família ainda foram transferidos para outros locais, até que numa ocasião tiveram que se dirigir para a estação de trem.
“Meu querido e doce Bogar esperou do lado de fora do gueto por nós. Inicialmente, fiquei emocionada ao ver que ele estava vivo, mas quando ele nos seguiu até a estação de trem, meu coração afundou. Não pude evitar as lágrimas que caíram no meu rosto. Angustiei-me com o que Bogar faria. Ele seguiria o trem? Ele seria morto sob as rodas do trem? Alguém atiraria nele? O pobre Bogar não sabia que teríamos que deixá-lo novamente. O que aconteceria com o nosso precioso Bogar? Tudo o que eu conseguia pensar era em Bogar, e não em mim mesma. Talvez pensando em Bogar eu tenha sido capaz de lidar com meus medos profundos”.
“Em maio de 1945 estávamos livres!”
“Tínhamos ouvido histórias de cães sendo pegos e comidos, ou espancados ou baleados por soldados. Os cães maiores atacavam os cães menores enquanto morriam de fome. Eu sabia que, para sobreviver, algumas pessoas haviam capturado e comido todos os animais que conseguiam. Eu me perguntava: o que restará para Bogar?”
“Um mês depois, eu estava andando pela estrada a cerca de 1,6 km de casa, ainda esperando encontrar Bogar quando vi um cachorro que parecia ele. Meu coração pulou! Hesitei em chamar o nome dele, por medo de que não fosse ele e a decepção doesse muito. Hesitante, eu chamei, “Bogar! Bogar! O cachorro parou e olhou, congelado no lugar. Então, como uma estrela cadente, ele correu para mim, pulando e lambendo minhas mãos e rosto”
“Ajoelhei-me e o abracei por um longo tempo. Que alegria e alívio. Agradeci a Deus por cuidar dele. Pela primeira vez desde que fomos levados, senti paz e esperança. Ele estava magro e tinha um olhar assombrado. No ano seguinte ainda tivemos nosso maravilhoso Bogar conosco, mas depois ele ficou doente e morreu. “Todos lamentamos profundamente”.
Susan Bulanda é membro da Associação Internacional de Consultores de Comportamento Animal (IAABC) e autora também do livro “Criaturas de Deus: uma visão bíblica dos animais”.
Para saber mais sobre o livro dos animais no holocausto acesse AQUI
Relatos exclusivos à Anda
Em 2015, a ANDA entrevistou duas sobreviventes do holocausto residentes no Brasil que vale rever na data de hoje.
“Meu pai teve que matar nosso cachorro”, conta Klara Kielmanowicz que estava com 10 anos de idade quando teve início a perseguição aos judeus. Ela estava atrás de uma trincheira com a família tentando se esconder dos soldados nazistas, mas seu cachorro, de nome Tufi, não parava de latir. “Foi então que meu pai matou meu cachorrinho com um tiro para não sermos descobertos. Eu não vi ele ser morto, mas vi meu pai e irmão o levarem para outro canto. Soube depois que o mataram. Lembro que chorei muito”, conta a sobrevivente.
Ela diz que na época ouviu falar que um vizinho, ao ter a casa abordada pelos nazistas, teve seu cachorro executado porque ele também começou a latir sem parar. “Meu pai vendeu a casa na cidade e fomos para um sítio onde havia cavalos, vacas e galinhas, mas ficou tudo lá. Inclusive, na cidade, quando os judeus tinham que deixar suas casas, largavam também os animais e todos os seus pertences. Os alemães entravam nas casas e pegavam o que queriam, inclusive os bichos de estimação. Não eram só os soldados que invadiam as casas, mas qualquer pessoa não judia”, relata.
Michele Schott, de 81 anos, é francesa, mas diz que seu pai também sofreu perseguição por parte dos nazistas por ser católico. Ela tinha apenas seis anos em 1940 e conta que várias crianças judias foram acolhidas por famílias francesas, belgas e holandesas enquanto seus pais eram levados para os campos de concentração.
“Essas crianças não eram adotadas, mas ficavam sob a guarda dessas famílias para o caso de seus pais retornarem. Junto com as crianças certamente os animais de estimação também eram acolhidos. Sei disso porque nunca vi, quando criança, animais andando abandonados nas ruas. Tenho certeza que quem acolhia as crianças também acolhia os bichos”, diz.
Como tudo começou
Os judeus já vinham sofrendo muitas restrições desde a década de 30 como ouvir rádio, ir ao cabeleireiro, cinema, concertos, museus, andar de ônibus, passear nos parques, ter máquinas de escrever, frequentar bibliotecas e restaurantes. Em 1942 veio mais um golpe. Eles foram proibidos de manter animais domésticos. Tiveram que entregá-los aos alemães para serem mortos ou podiam apresentar um atestado que o animal tinha sido induzido à morte em uma clínica veterinária.
Uma rara reportagem sobre os animais do holocausto no blog “Of things Forgotten” diz que em janeiro de 1942, todos os judeus de uma cidade da Lituânia foram obrigados a levar seus animais de estimação para uma pequena sinagoga. Lá os animais foram mortos pelos soldados alemães. Há relatos sobre cães e gatos atirados pelas janelas de prédios por soldados nazistas como forma de aterrorizar os judeus.
O gato de Anne Frank
A adolescente Anne Frank, que ficou escondida dos nazistas num sótão do prédio onde seu pai tinha empresa em Amsterdã (Holanda), cuidava de um gato. O prédio tinha dois gatos, Moortje, uma gata preta que era da família de Anne (vide foto) e foi abandonada no momento em que a família teve de se esconder, e Mouschi que era mantido no edifício para afastar os ratos e circulava por toda parte.
Mouschi chegou ao sotão pelas mãos de outro foragido e lá ficou por dois anos até o dia em que os nazistas descobriram o esconderijo. O gato aparece no filme “O Diário de Anne Frank”, de 1959, baseado nas páginas escritas pela garota. A história é também contada pelo próprio felino no livro “Mouschi – O Gato de Anne Frank “, de José Jorge Letria. A obra, que é conduzida por meio de ilustrações, narra como um gato assistiu ao nazismo tendo como companheira uma garota que sonhava ser jornalista.
Fátima Chuecco é jornalista ambientalista e atuante na causa animal
Fonte: ANDA
Marília Hádima Montoril Santiago
Fico muito triste com o que aconteceu com os judeus e seus animais de estimação. Espero que o mundo, a mentalidade das pessoas mudem para melhor depois de tantas tragédias, que não esquecam daqueles que sofreram nas guerras passadas para não repetir o mesmo erro.
A Anne Frank era uma garota tão pura muito inteligente pra idade dela, um gênio de menina. O único detalhe que me chamou a atenção sobre ela, era a implicância que ela tinha com a mãe.
Atualmente eu já soube de casos de adolescentes com esse comportamento com relação a mãe. Eu nunca tive esse comportamento. Minha mãe sempre foi e sempre será uma Rainha pra mim, merecedora de toda honra e amor. Para mim a perfeição em pessoa.