Em viagem por Estados do Nordeste, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a usar termos pejorativos para se referir à população nordestina. Nesta quarta-feira, 9, durante evento na cidade de Jucurutu, no Rio Grande do Norte, Bolsonaro se referiu aos nordestinos com a expressão depreciativa “cabeça chata”.
No discurso, o presidente tentou mostrar proximidade com moradores da região ao citar que “sangue nordestino” corre nas veias de sua filha Laura. “A minha esposa [a primeira-dama Michelle Bolsonaro] é filha de um cabra da peste, um cabeça chata, um cearense”, afirmou, entre alguns aplausos não muito animados vindos do público. “Em consequência, a minha filha tem em suas veias também o sangue de nordestino”.
Histórico de preconceito
Essa não foi a primeira vez que Jair Bolsonaro se referiu aos nordestinos de forma jocosa. Na semana passada, ele fez uso do termo “pau de arara” para se referir aos seus assessores nordestinos. Na mesma ocasião, ele errou o Estado de origem de Padre Cícero
A maior rejeição à reeleição do chefe do Executivo no País vem justamente dessa região, principal reduto eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em julho de 2019, ao fazer uma crítica ao governador do Maranhão, Flávio Dino (então no PC do B), o mandatário resumiu todos os Estados do Nordeste ao termo “Paraíba”, fala que foi considerada pejorativa. “Daqueles governadores de ‘Paraíba’, o pior é o do Maranhão; tem que ter nada com esse cara”, disse o presidente na ocasião.
A declaração gerou reação dos governadores nordestinos, sobretudo de Dino, que manifestou “espanto e profunda indignação”. Poucos dias depois, Bolsonaro tentou reverter o desgaste em sua imagem ao inaugurar um aeroporto em Vitória da Conquista, na Bahia. No evento, o chefe do Planalto chegou a usar um chapéu tipicamente associado à cultura nordestina.
Ainda naquele mês, o presidente afirmou que o Nordeste é “sua terra” e que ele se sente à vontade para andar por qualquer lugar do território brasileiro. “Sou amigo do Nordeste, poxa. Por que essa história? Vocês mesmos da mídia querem separar o Nordeste do Brasil. O Nordeste é Brasil, é minha terra e eu ando qualquer lugar”, disse. Em outra ocasião, provocado a comentar a repercussão de sua fala preconceituosa inicial, ele replicou: “tem algum nordestino ofendido?”.
Em agosto daquele ano, ainda comentando a declaração contra Flávio Dino, Bolsonaro disse ao Estadão que, em seu entendimento, governadores do Nordeste agiam para “dividir o País”, enquanto ele trabalharia para unir.
Em novembro de 2020, o presidente cometeu mais uma gafe e errou a localização de duas cidades enquanto visitava a região. Ao explicar por que seu voo não pousaria em determinado lugar, o chefe do Executivo afirmou que o município de Paulo Afonso ficava em Alagoas, mas a cidade é na Bahia. Em seguida, o mandatário se confundiu novamente e disse que a cidade de Piranhas ficava em Sergipe. Esta, sim, fica em Alagoas.
No fim do ano passado, o presidente foi muito criticado por não interromper sua viagem a lazer em Santa Catarina para acompanhar pessoalmente o resultado das chuvas na Bahia, que deixaram desabrigados e mortos. O ato repercutiu entre personalidades e políticos e se somou à lista de controvérsias do mandatário envolvendo os Estados da região. Após as críticas, diante de tragédia semelhante em municípios de São Paulo, o presidente esteve no Estado para anunciar apoio às cidades mais atingidas.
O Nordeste lidera o ranking de beneficiados pelo Bolsa Família, programa que substituiu o então Fome Zero em 2003, no primeiro ano do governo Lula. Com cerca de 40,5 milhões de eleitores e Estados governados por políticos de esquerda em sucessivos mandatos, a região é um dos principais desafios para os adversários de Lula. Bolsonaro aposta no Auxílio Brasil de R$ 400 para avançar na preferência do eleitorado nordestino.
* Com informações do Estadão Conteúdo
Fonte: Redação Terra