PUBLICADO EM 06 de jul de 2025

BRICS: Movimentos sociais entregam propostas aos chefes de Estado

Confira as propostas do Conselho Popular do BRICS após sua primeira reunião oficial na cidade do Rio de Janeiro.

Representantes do Movimento Popular no BRICS/Foto: Priscila Ramos

Representantes do Movimento Popular no BRICS/Foto: Priscila Ramos

O Conselho Popular do BRICS encerrou neste sábado (5), no Rio de Janeiro, sua primeira reunião oficial, com a elaboração de um caderno de propostas que será apresentado aos chefes de Estado e de governo dos países-membros durante a cúpula do bloco, marcada para os dias 6 e 7 de julho na mesma cidade. A iniciativa marca uma nova etapa de participação da sociedade civil nas discussões do Brics, que atualmente está sob presidência do Brasil.

Formado por movimentos sociais, organizações não governamentais, sindicatos e universidades, o Conselho Popular construiu suas recomendações por meio de sete Grupos de Trabalho (GTs) que abordaram temas como saúde, educação, cultura, finanças, tecnologia, meio ambiente e estrutura organizacional. O resultado é um documento com cerca de 100 páginas, que será disponibilizado ao público no site oficial do Conselho.

Entre as principais propostas, estão:

  • Ampliação do uso de moedas nacionais nas transações comerciais entre os países do Brics;

  • Reforma da governança global para ampliar a voz do Sul Global;

  • Acesso universal à saúde e combate conjunto a doenças infecciosas e crônicas;

  • Produção compartilhada de vacinas e valorização de práticas de medicina tradicional;

  • Soberania tecnológica e promoção da inclusão digital;

  • Criação de um fundo climático do Brics para ações de mitigação e adaptação;

  • Diretrizes éticas para o uso da inteligência artificial no setor cultural, visando a proteção do trabalho criativo.

Segurança internacional e temas sociais

Embora os temas sociais tenham ganhado destaque nas discussões, como enfatizou o professor Emílio Mendonça Dias da Silva, da Universidade de São Paulo (USP), o debate sobre segurança internacional também foi central, especialmente diante do aumento de conflitos no cenário global. “Não se pode negligenciar a importância da saúde, da educação e dos direitos sociais, mas a segurança internacional também atrai atenção por seu impacto na estabilidade dos países”, afirmou o pesquisador, que coordenou o GT sobre institucionalidade.

Participação e mobilização popular

Um dos momentos mais aguardados será o breve pronunciamento do Conselho Popular na abertura oficial da cúpula, diante dos líderes dos países-membros. A fala será simbólica, mas representa um gesto inédito do Itamaraty, segundo João Pedro Stédile, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e um dos articuladores do fórum.

Stédile defende que as propostas não fiquem apenas no papel e cobra mobilização popular para pressionar por sua implementação. “Só haverá avanço com luta de massas, com o povo na rua, e não apenas nas redes sociais”, afirmou. Ele também defende a consolidação institucional do Conselho Popular, com estrutura administrativa permanente.

Próximos passos

A expectativa é de que a próxima reunião do Conselho aconteça em outubro, na cidade de Salvador (BA), reunindo delegações da sociedade civil dos 11 países que compõem atualmente o Brics: África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia.

O grupo representa 48,5% da população mundial e cerca de 39% da economia global. Além dos membros, há países com status de parceiros – como Cuba, Bolívia e Malásia –, que participam de debates, mas sem direito a voto.

Novo espaço, novos desafios

Inspirado na experiência do G20 Social durante a presidência brasileira do G20 em 2024, o Conselho Popular do Brics surge como um novo espaço de diálogo entre os governos e a sociedade civil. Contudo, diferentemente de uma organização internacional formal, o Brics não possui orçamento próprio, secretariado permanente ou mecanismos de obrigatoriedade em suas decisões.

O Brasil deixa a presidência rotativa do grupo ao fim de 2025, quando será sucedido pela Índia. Até lá, a sociedade civil brasileira continuará articulando ações para fortalecer esse canal de participação popular nos rumos do bloco.

Com Agência Brasil

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