PUBLICADO EM 18 de ago de 2021
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Brasil pode ter nova onda de covid entre abril e setembro de 2022

Projeções são do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar Ação Covid-19 e levam em conta queda da imunidade vacinal ao longo do tempo

São Paulo inicia vacinação de pessoas com 37 anos – Foto: REPRODUÇÃO/RECORD TV

Mesmo com o avanço da vacinação contra a covid-19 neste ano, o Brasil pode voltar a ter um novo pico de infecções e mortes pela doença em 2022, segundo projeções feitas pelo Grupo de Pesquisa Interdisciplinar Ação Covid-19.

O estudo, intitulado Possíveis cenários da pandemia no Brasil sob diferentes durações de proteção vacinal, leva em conta a taxa média de proteção das vacinas aplicadas no país contra casos sintomáticos da doença — CoronaVac (50%), Janssen (66%), AstraZeneca (76%) e Pfizer (95%) — e uma eventual queda do nível dos anticorpos conferidos por elas em dois cenários: após 12 e 18 meses.

A campanha de imunização começou no Brasil em 17 de janeiro, com profissionais de saúde, seguidos de idosos.

Os pesquisadores incluíram variáveis que podem fazer com que um novo surto impacte mais uma região do que outra. Para isto, criaram o IPC (Índice de Proteção Covid-19), que sumariza e diferencia a desigualdade social em diferentes localidades.

Outros parâmetros incluem a taxa de vacinação de cada estado ou cidade, nível de isolamento social e densidade demográfica, por exemplo.

O grupo concluiu que, sem uma revacinação no começo ano que vem, existe risco de um novo surto de covid-19 no país entre abril e setembro, a depender da duração da imunidade conferida pelas vacinas.

“Já se observa no país a diminuição das medidas de prevenção, com retorno às atividades comerciais e às aulas presenciais, aglomerações em espaços de lazer, realização de festivais de música e eventos esportivos, o que amplia continuamente o risco de transmissão e surgimento de novas variantes, principalmente em cidades com baixo IPC, alta densidade e polos turísticos como o exemplo hipotético da cidade de Olinda-PE”, alerta o estudo.

A epidemiologista Gerusa Figueiredo, uma das autores do estudo e professora do IMT-USP (Instituto de Medicina Tropical de São Paulo), explica que nenhuma vacina confere 100% de proteção contra a covid-19. Só por este motivo uma parte dos imunizados já está suscetível à infecção em um primeiro momento.

Mas com o passar dos meses, seja após a doença ou a vacinação, há um aumento real do risco de infecção ou reinfecção.

“Parece que as pessoas imunizadas têm uma infecção mais branda, com uma carga viral menor — tem as exceções, como os idosos — e a transmissão dessa maneira também fica menor. A médio prazo e longo prazo é como se isso [incidência] fosse se esmaecendo. Pode ser que algum dia aqui no Brasil não tenha mais a epidemia, mas neste cenário próximo, entre um ano e 18 meses, a gente pode sim ter essas taxas de pessoas infectadas e mortes”, acrescenta a pesquisadora, que também é médica infectologista.

O grupo é categórico ao dizer que a epidemia não vai acabar no Brasil por enquanto.

“Não é hora de decretar o fim da pandemia. É hora de retomar as atividades com o máximo de cuidado possível, monitorando a curva epidêmica”, afirma em comunicado a bióloga Beatriz Carniel, também autora do estudo.

A grande preocupação dos especialistas é que governos estaduais e municipais começam a afrouxar medidas de restrição com um patamar ainda baixo de pessoas completamente vacinadas: menos de 25% dos brasileiros ou um terço dos adultos até esta terça-feira (17).

Para efeito de comparação, os Estados Unidos deram um passo à frente na flexibilização com cerca de 50% da população totalmente imunizada, assim como o Reino Unido.

As flexibilizações no Brasil, salienta Gerusa, criam uma clima de que a vida voltará a ser como era antes da pandemia, o que não é verdade.

“Vai abrir tudo agora. Isso passa uma sensação para as pessoas de normalidade. E as pessoas precisam continuar utilizando máscaras e manter distanciamento.”

A chegada da variante Delta ao Brasil aumenta o temor em relação a novas ondas de infecções, mesmo entre vacinados. A cepa indiana é a que mais escapa da imunização parcial, com apenas uma dose dos imunizantes que requerem duas.

“As ações dos governos acerca da pandemia e a adoção ou não das medidas individuais e coletivas de prevenção da covid-19 pela população também são fatores significativos no impulsionamento de novos surtos da doença. Este novo contexto social trazido pela presença do coronavírus alterou fundamentalmente o estilo de vida dos cidadãos e passou a exigir um conjunto de novos comportamentos, como o uso de máscaras, a adoção de protocolos de higiene, e a diminuição da vida social presencial”, complementam os autores do estudo.

O grupo não fez uma projeções semelhantes para este ano. No entanto, a professora da IMT-USP destaca que a vacinação recente deve fazer com que não se repita o cenário trágico observado especialmente entre março e abril, quando a variante Gama, identificada inicialmente em Manaus, espalhou-se pelo país.

Dose de reforço

Cientistas do mundo todo já têm um consenso de que a covid-19 é uma doença que vai permanecer.

A grande capacidade de mutação do vírus SARS-CoV-2 e a possibilidade de reinfecção tornam a imunidade de rebanho (quando uma determinada taxa cobertura vacinal interrompe a transmissão do patógeno) impossível, segundo o grupo Ação Covid-19.

Com base nesta premissa, é pertinente imaginar, afirma Gerusa, que o mundo inteiro terá que fazer vacinações periódicas contra a covid-19. Mas a questão é: quando?

Estudos internacionais, como um realizado no Chile, já apontam para uma queda da imunidade da CoronaVac seis meses após a segunda dose.

Esta foi a primeira vacina usada no Brasil, principalmente em idosos, que já têm um sistema imunológico mais fragilizado em relação aos jovens e não desenvolvem uma proteção tão robusta.

“O que a gente colocou no modelo não foi um surto sazonal, foi um surto prevendo que acabe a imunidade. Ficando claro que é isso que vai acontecer, teremos que ter vacinações periódicas para não ter surtos sazonais.”

Os Estados Unidos anunciaram nesta semana a aplicação de uma terceira dose em indivíduos imunodeprimidos.

Mas a epidemiologista diz que esta é uma discussão ainda complicada para o momento no Brasil, onde 41 milhões de adultos não tomaram uma dose sequer até agora e outros 61 milhões precisam tomar a segunda.

“Nós ainda precisamos alcançar uma cobertura vacinal boa e homogênea”, finaliza.

Fonte: Portal R7

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