Discurso do presidente Jair Bolsonaro na cúpula do G20 neste sábado (21) negou o racismo no Brasil e provocou indignação e repúdio do campo progressista mais uma vez. Ao introduzir sua fala na reunião, o presidente sustentou que não existe racismo no país. Sem fazer referência explícita ao crime de racismo em que dois seguranças de loja do Carrefour em Porto Alegre mataram por asfixia o negro João Alberto Silveira Freitas, Bolsonaro disse que o Brasil tem uma cultura diversa, única entre as nações. “Somos um povo miscigenado. Brancos negros e índios edificaram o corpo e espírito de um povo rico e maravilhoso”, afirmou.
No em sua negação de racismo na reunião do G20, Bolsonaro também atacou os movimentos sociais, que se manifestaram contra a morte no Carrefour. “Foi a essência desse povo que conquistou a simpatia do mundo. Contudo, há quem queira destruí-la. E colocar em seu lugar ou conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças. Sempre mascarados de lutas por direitos igualdade ou justiça social. Tudo em busca de poder.”
“Inaceitável! Ao negar a existência do racismo na reunião da cúpula do G20, Bolsonaro choca o mundo e reafirma o discurso racista feito por Mourão ontem”, disse o candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, nas redes sociais, referindo-se ao vice-presidente da República, Hamilton Mourão.
‘Pessoal de cor’
Questionado se creditava o assassinato de João Alberto a um ato racista, Mourão não somente negou, como afirmou: “Não, eu digo para você com toda a tranquilidade: não tem racismo aqui”.
Ele ainda fez uma comparação com os Estados Unidos, país onde viveu, para reafirmar seu posicionamento, dizendo que lá o “pessoal de cor” andava separado na escola, o que não aconteceria no Brasil. Ou seja, para justificar a sua fala, usou um termo racista, ao referir-se aos negros como “pessoas de cor”.
Constrangimento
Segundo o colunista do Uol Jamil Chade, as declarações de Bolsonaro provocaram constrangimento e choque entre algumas delegações estrangeiras e até indignação entre as agências da ONU.
“Uma parcela das delegações não entendeu imediatamente do que se tratava. Mas, para quem acompanhava a situação no Brasil, a atitude foi considerada como um ato “sem sintonia” com o discurso de direitos humanos das entidades internacionais, principalmente num momento em que a pandemia afeta de forma desproporcional a parcela mais vulnerável da população”, escreveu o jornalista.
Segundo ele, uma negociadora de alto escalão de um país europeu que acompanha a reunião confessou à coluna que ela e outros ficaram “em choque” ao ouvir a “tese de conspiração” sobre o racismo no Brasil. “Como é que, em pleno século 21, ainda escutamos tais discursos”, questionou a diplomata, na condição de anonimato.
Fonte: Rede Brasil Atual
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