O presidente Jair Bolsonaro redobrou nesta quarta (25) a aposta de minimizar a crise da pandemia do novo coronavírus e tentar abrandar a política de isolamento e distanciamento social adotada no país devido à doença.
Com isso, ganhou a oposição aberta de antigos aliados —como do governador goiano, Ronaldo Caiado (DEM)— e críticas generalizadas no Congresso, além de ter seus pedidos ignorados pelos chefes de Executivo dos estados.
Também se envolveu em um duelo verbal com o paulista João Doria (PSDB), seu maior antagonista no debate sobre a condução da emergência.
Na terça (24) à noite, Bolsonaro havia feito um polêmico pronunciamento em rede nacional no qual voltou a chamar a Covid-19 de “gripezinha”. Também criticou medidas de isolamento social, como fechamento de escolas e de comércio, a principal recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) para tentar conter a propagação do vírus.
A fala de Bolsonaro foi repudiada por políticos e autoridades sanitárias, porque vão contra os principais exemplos disponíveis no combate à doença no mundo.
Na manhã desta quarta, em entrevista, ele voltou a criticar governadores pela restrição de movimentação de pessoas e defendeu que haja isolamento apenas para aqueles do chamado grupo de risco, como idosos e portadores de comorbidades.
“Vou conversar com ele [Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde] e tomar a decisão. Cara, você tem que isolar quem você pode. Você quer que eu faça o quê? Eu tenho o poder de pegar cada idoso e levar para um lugar? É a família dele que tem que cuidar dele no primeiro lugar”, afirmou Bolsonaro.
Os apelos do presidente acentuaram uma mudança de tom no discurso de Mandetta, mas não foram atendidos pelos chefes de Executivo dos estados, que se reuniram à tarde por videoconferência organizada por Doria e decidiram manter a política de medidas restritivas.
Além disso, divulgaram carta pedindo que Bolsonaro assuma suas responsabilidades de líder na crise do coronavírus e sugeriram medidas para mitigar impactos econômicos imediatos da pandemia.
O tucano Doria, um dos principais presidenciáveis especulados para 2022, esteve no centro da crise.
Pela manhã, participou com outros governadores do Sudeste de videoconferência com Bolsonaro e ministros. Nela, Doria criticou o discurso do presidente e apresentou demandas comuns dos governadores.
Bolsonaro retrucou agressivamente, acusando o tucano de ser “leviano” e de ter sido eleito em 2018 de carona em sua popularidade, só para depois buscar protagonismo para tentar ser presidente da República em 2022.
“Subiu à sua cabeça a possibilidade de ser presidente do Brasil. Não tem responsabilidade. Não tem altura para criticar o governo federal”, disse o presidente ao tucano. “Se você não atrapalhar, o Brasil vai decolar e conseguir sair da crise. Saia do palanque”, afirmou Bolsonaro.
A altercação ocorreu depois de uma consideração de Doria no encontro: “Peço que o senhor tenha serenidade, calma e equilíbrio. Mais do que nunca, o senhor precisa comandar o país”.
Fonte: Folha SP