“Na vida de presidente da República, eu tenho três cartões corporativos. Dois são usados para despesas, as mais variadas possíveis, que, afinal de contas, mais de 100 pessoas estão na minha segurança diariamente, despesas de casa, normal. E um terceiro cartão, que eu posso sacar R$ 24 mil por mês, sem prestar conta. Eu posso sacar R$ 24 mil e gastar onde eu bem entender, sem prestar contas. Quanto eu usei dessa verba desde janeiro do ano passado? Zero. Isso é obrigação.” A declaração é do presidente Jair Bolsonaro, em pronunciamento em 24 de abril.
Na ocasião, estava em choque com a demissão do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça. Logo em seguida, Bolsonaro menciona o aquecimento da piscina do Palácio da Alvorada, a residência presidencial. “Desliguei o aquecedor da piscina olímpica”, informou, apesar de a piscina ser aquecida por energia solar.
Coisa pública
“Eu tenho preocupação com a coisa pública e busco dar exemplo”, disse Bolsonaro que agora se recusa a apresentar os gastos com o cartão corporativo que, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, dobrou nos primeiros quatro meses de 2020.
A comparação feita pelo jornal refere-se à média dos gastos dos últimos cinco anos. “A fatura no período foi de R$ 3,76 milhões, valor que é lançado mensalmente no Portal da Transparência do governo, mas cujo detalhamento é trancado a sete chaves pelo Palácio do Planalto”, explica a reportagem.
“Sem dar detalhes, a assessoria de imprensa da Secretaria-Geral da Presidência – órgão responsável pela gestão dos cartões corporativos – informou que a maior parte das despesas neste ano está relacionada às viagens presidenciais em território nacional e viagens internacionais. Neste ano, o presidente esteve na Índia em janeiro, participou da posse do presidente do Uruguai, no início de março e, no mesmo mês, viajou com uma comitiva de 31 pessoas aos Estados Unidos”, relata o Estadão.
Culpa da China
Bolsonaro afirmou a seguidores, na manhã de domingo (10), em Brasília, que os gastos se referem a despesas para enviar aviões à China, em janeiro, quando foi feita repatriação de brasileiros que estavam isolados em Wuhan, em razão do surto da covid-19. “Teve quatro aviões para China para buscar gente lá. Daí gastou mesmo”, disse.
No entanto, o presidente, se recusa a comprovar essa informação. Em tempos de pandemia pelo coronavírus e com o Brasil se aproximando cada vez mais do epicentro da crise mundial, a hashtag #MostraAFaturaBolsonaro chegou ao trending topics do Twitter no país. E muitos políticos lamentaram.
Mostra a fatura
A presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann, cobra explicações de Bolsonaro. “Em que gastou quase R$ 1 milhão por mês neste ano, com seu cartão corporativo? Para que tanto dinheiro? E se juntar GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e Abin (Agência Brasileira de Inteligência) foram R$ 7,5 milhões em despesas sigilosas! Nenhum outro presidente chegou perto disso. E ele se dizia contra o cartão corporativo”, ironizou.
“Enquanto milhões de famílias estão penando para receber os R$ 600 do auxílio emergencial, Bolsonaro gastou R$ 4 milhões de forma sigilosa com o cartão corporativo em apenas quatro meses. Queremos saber onde esse dinheiro foi gasto”, afirmou o deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ).
“Bolsonaro tá morrendo de medo de revelar as coisas, né”, ironizou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ). “É reunião que fala mal do STF, China e pede pra interferir na PF, é laudo misterioso de covid-19 e agora a fatura do cartão corporativo de R$ 4 milhões. Cadê a verdade de voz liberta?”
Inclusive antigos apoiadores duvidam da palavra do presidente. “Enquanto o gasto dos brasileiros com cartão de crédito diminui, o do Jair Bolsonaro aumenta”, criticou a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). “Ele gasta a bagatela de R$ 709 mil por mês, mais que Dilma e Temer, e se nega a dizer onde gasta o dinheiro público. O povo tem direito de saber!”
Fonte: Rede Brasil Atual