Se um dia o presidente Jair Bolsonaro (PL) declarou a Rede Globo uma das inimigas do país, hoje ele já nem se lembra mais. Entre janeiro e junho deste ano, o governo Bolsonaro dobrou os gastos com publicidade na emissora, em relação a igual período do ano passado.
Pré-candidato à reeleição, hoje Bolsonaro utiliza o espaço da maior rede de TV do país para fazer campanha e divulgar o que fez em três anos e meio de governo. Há cerca de um ano, em fevereiro de 2021, Bolsonaro chegou a levantar uma placa com a frase “Globo Lixo”, durante viagem para a entrega do Centro Nacional de Treinamento de Atletismo do município de Cascavel, no Paraná.
Entre 1º de janeiro a 21 de junho do ano passado, foram pagos R$ 6,5 milhões à TV Globo pela veiculação de materiais publicitários. Em 2022, houve um aumento de 75% desse valor, chegando a R$ 11,4 milhões, segundo dados da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência (Secom), reunidos pelos UOL.
O valor investido somente nesse período equivale a 42% de todo recurso destinado à compra de espaço publicitário na Globo durante os quatro anos de mandato, considerando os seis primeiros meses de cada ano.
Juntas, Globo, SBT, Rede TV, Record e Band receberam R$ 33 milhões no primeiro semestre. É o maior valor desde 2009, quando foram pagos R$ 30,4 milhões em valores líquidos. O montante destinado à TV Globo nesses primeiros seis meses do ano superou o montante pago à Record e à SBT, emissoras próximas do presidente Jair Bolsonaro.
Campanhas institucionais
Mas não foram só os valores pagos à TV Globo que mudaram. O modelo de propaganda que mais recebeu investimento também passou por modificações. Se em 2021, a Secom comprou mais inserções publicitárias para veicular informações de “utilidade pública”, neste ano priorizou materiais institucionais.
Em 2021, foram 46 propagandas de utilidade pública e 10 para materiais institucionais na TV Globo. Neste ano, entre janeiro e junho, foram 72 campanhas institucionais e somente duas de utilidade pública. As campanhas institucionais são aquelas que contém informações sobre os feitos da gestão e ajudam a levantar a popularidade do presidente.
Na Record, o volume de materiais institucionais saiu de seis para 53. No total, as cinco maiores emissoras do país receberam um aumento de 69% na quantidade desse tipo de material veiculado, em relação ao primeiro semestre do ano passado.
Os recursos destinados à TV Globo passaram a aumentar depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) obrigou a Secom a direcionar os investimentos com propaganda de acordo com critérios técnicos, como os números de audiência dos veículos de comunicação.
Fonte: Brasil de Fato