Por Carolina Maria Ruy
Boleiros é um filme que fala de vidas ligadas ao futebol: o jogador, o técnico, o juiz, o empresário de atletas, as esposas, os torcedores, além dos saudosistas e dos amantes desta arte.
Num típico boteco paulistano, decorado com fotos de jogadores, seis amigos, profissionais e ex-profissionais do futebol, costumam manter longos papos e recordar velhos tempos. Cada observação remete a um folclore. Papo de bar. Casos pitorescos, lances e vinhetas ilustram a conversa.
Histórias de juízes vendidos, sagas de jornalistas esportivos, do negócio que são as escolinhas de futebol, de transações milionárias da década de 1990 e de torcedores fanáticos, entre outras, mostram com humor e nostalgia o universo particular do futebol.
O filme marca uma época em que o futebol assistiu a um processo de espetacularização. Mesmo que no campo sociocultural este esporte sempre representou um espetáculo, na década de 1990 houve uma explosão de comércio de bons jogadores, fabricação de celebridades do futebol, associação destes a grandes marcas, salários estratosféricos, enfim, um esgotamento comercial e midiático dos times e dos jogadores.
Este glamour não atingiu, entretanto, futebolistas de clubes menores, que representam mais de 90% dos profissionais, que ralam por baixos salários e vivem em grandes dificuldades.
A maioria dos meninos que ingressam nas divisões de base não alcança o profissionalismo. E, para os que o alcançam, a carreira tende a ser curta, pelo menos para os jogadores. Curtas e intensas, daí a abstinência que abala muitos antigos esportistas.
O que o filme não diz é que, como a maioria das profissões, os futebolistas também têm representação sindical para defender suas reivindicações.
No Brasil, o primeiro sindicato dos jogadores de futebol foi criado em 30 de junho de 1939, no Rio de Janeiro. Atualmente, as mulheres também têm ascendido à realização da profissão de futebolista em categoria exclusiva ao seu gênero.
A alegria de Boleiros, é que ele pode se deleitar na certeza de que nada disso ofusca o brilho do esporte. Em sua lógica própria o futebol tem demonstrado que é, do “verbo ser”, sonho e arte.
Boleiros, Era Uma Vez o Futebol
Brasil, 1998
Direção: Ugo Giorgetti
Elenco: Rogério Cardoso, Adriano Stuart, Flávio Migliaccio, Lima Duarte, Otávio Augusto, Cassio Gabus Mendes, Marisa Orth, Denise Fraga, João Acaiabe, André Abujamra, Elias Andreato
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical. Do livro “O mundo do Trabalho no cinema”, publicado por Centro de Memória Sindical
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