De acordo com a Federação Nacional do Jornalistas (Fenaj), os ataques aos profissionais de imprensa e aos veículos de comunicação mantiveram o patamar do ano anterior e somaram 430 casos em 2021, com acréscimo de detenções e prisões.
“Em 2021 tivemos a manutenção das violências instaladas em 2020, quando houve uma explosão de casos com aumento de 105% em relação a 2019. Essa explosão foi acompanhada pela Fenaj e pelos sindicatos com muita apreensão e, dentro da atuação das entidades, nos cabe o registro dos casos reportados às entidades sindicais, que é a base da metodologia do relatório”, declarou a presidenta da Federação, Maria José Braga, durante o lançamento do documento nesta quinta-feira (27).
Além das denúncias coletadas pelos Sindicatos, o relatório conta com informações de ataques e violências noticiadas na imprensa e o monitoramento das lives e entrevistas do presidente Jair Bolsonaro, um dos principais agressores de jornalistas e veículos de comunicação.
A censura foi a violência mais frequente em 2021, ultrapassando a descredibilização da imprensa, mais comum nos dois anos anteriores. Ao todo, houve 140 casos de censura, majoritariamente cometidas dentro da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Maria José Braga pontuou que a empresa pública deveria ser um paradigma de atuação, mas seus profissionais são cerceados pelo governo Bolsonaro. É a primeira vez que a censura ocupa o topo do relatório.
Nos anos anteriores, a descredibilização da imprensa havia sido o ataque mais frequente e, em 2021, ficou em segundo lugar, totalizando 131 casos. “A descredibilização foi uma categoria criada em 2019 diante da própria postura do presidente Jair Bolsonaro em relação aos meios de comunicação e aos jornalistas e aconteceu em 131 oportunidades, sendo a maioria cometida pelo presidente. São falas genéricas de críticas a veículos e ataques a categoria em geral que mostram agressividade com o objetivo de descredibilizar o trabalho da imprensa”, explicou Braga.
Em terceiro lugar ficou os ataques verbais, incluindo os promovidos pelas redes sociais, com 58 episódios. “É uma violência que está crescendo e tem consequências muito grandes para a saúde mental e emocional dos jornalistas agredidos”, ressaltou a presidenta da Fenaj.
Por região, SP é o segundo estado com mais casos
O Centro-Oeste manteve-se como a região mais violenta com 169 casos (56,90%) e o Distrito Federal como a unidade federativa com maior número de casos, justamente em decorrência das censuras na EBC, com 159 ataques, representando 53,54%. São Paulo registrou 45 ataques (15,15% das agressões) seguido pelo Rio de Janeiro com 10 casos (4,04%).
Maria José Braga ressaltou que a violência está espraiada por todo o país de forma igualitária, registrando ataques em quase todas as unidades federativas.
Norian Segatto, diretor da Fenaj e membro do conselho fiscal do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP), destacou que os números podem estar subnotificados, mascarando uma realidade que pode ser ainda pior. “Claro que é um alerta, mas só vamos combater isso com a organização da categoria porque a vítima é individualizada e o ataque é contra um jornalista ou uma jornalista, mas os efeitos são contra toda a categoria, contra o exercício da profissão e contra a democracia. Nós estamos entrando em um ano em que provavelmente essas questões vão se exacerbar porque temos uma disputa política muito grande no país e nós, como profissionais em um setor fundamental e pilar da democracia, somos e seremos atacados talvez muito mais”, alertou Segatto.
Entre as iniciativas do SJSP para combater a violência contra a categoria, Segatto destacou que está em desenvolvimento o projeto de um aplicativo para facilitar a denúncia por parte da categoria e a realização de convênio com o Sindicato dos Psicólogos para oferecer o acompanhamento psicológico às vítimas. Além disso, o SJSP atua em conjunto com o Ministério Público na elaboração de protocolos de enfrentamento em todo o estado.
Violência por gênero
Como em toda série histórica, os homens seguem sendo os alvos mais frequentes dos ataques. Em 2021, eles foram vítimas em 55,89% das vezes enquanto as mulheres foram agredidas em 26,64% dos casos. Além disso, 40 vítimas não foram identificadas. Muitas vezes, esses casos se encontram em episódios em que os ataques foram promovidos contra uma equipe inteira e na qual não foi possível identificar o gênero de todos os integrantes.
Já nas agressões verbais e ataques virtuais, o número de mulheres vítimas é maior do que de homens. De acordo com a pesquisa, estes ataques possuem características peculiares com viés de gênero, com ataques a vida pessoal e na qualidade de mulher.
Quem são os agressores
Em 2021, assim como anos anteriores, os políticos ou pessoas ligadas à política foram os principais agressores e, entre os políticos, destaca-se o presidente da República. Sozinho, Jair Bolsonaro cometeu 147 ataques aos jornalistas e à imprensa, totalizando 34,19%.
Em seguida, aparecem dirigentes da EBC com 142 ataques e, depois, políticos e assessores com 40 episódios. Juntos, os três primeiros colocados somam mais de 70% dos casos.
Violência por tipo de mídia
Para atuar junto às empresas e cobrar a adoção de medidas, a Fenaj identifica os veículos nos quais os jornalistas são mais agredidos.
Em 2021, os profissionais da EBC foram vítimas de 138 ataques (37,40%) seguidos pelos profissionais de TV em 94 ataques (25,47%). Maria José Braga destaca que, historicamente, os profissionais de emissoras de TV são mais atacados especialmente por serem mais identificados ao portar equipamentos e trajes específicos. Em terceiro lugar estão os profissionais de mídia digital, somando 44 ataques. Em 30 casos (8,13%) a mídia dos profissionais não foi identificada.
A presidenta da Fenaj, Maria José Braga, alertou que a violência tem se mantido em um nível muito elevado. “É necessário que haja ação do poder público, das empresas de comunicação e apoio da sociedade brasileira para que haja combate da violência contra jornalistas. 2022 é ano eleitoral e as disputas políticas estarão acirradas e a Fenaj já se coloca de prontidão para apoiar os jornalistas no seu trabalho”.
Para ler o relatório completo, clique aqui.
Fonte: Adriana Franco – Sindicato dos Jornalistas de São Paulo – 27/01/2022