O assessor do candidato Tarcísio de Freitas, que mandou apagar vídeo de tiroteio em Paraisópolis, é o agente licenciado da Abin Fabrício Cardoso de Paiva, nomeado no governo de Jair Bolsonaro (PL). Segundo o The Intercept Brasil, uma fonte que trabalha no governo confirmou o nome do agente que se licenciou da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, para assessorar o bolsonarista que concorre ao segundo turno do governo paulista pelo Republicanos. A agência é subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional, comandada pelo general da reserva Augusto Heleno, um dos mais radicais militares bolsonaristas.
Paiva é o dono da voz que manda o cinegrafista da Jovem Pan, aliada de Bolsonaro, apagar imagens de um tiroteio semana passada, em Paraisópolis, conforme áudio divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo nesta terça-feira (25). Segundo o jornal, o assessor de Tarcísio (agora sabe-se que é Fabrício de Paiva) perguntou ao cinegrafista: “Você filmou os policiais atirando?”. “Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM para cima dos caras”, respondeu o profissional. “Você tem que apagar”, ordenou Paiva.
Na ocasião, uma equipe de Tarcísio de Freitas esteve na favela de Paraisópolis, zona sul da capital paulista, onde ocorreu o tiroteio que deixou uma pessoa morta. Com isso, a atividade da campanha eleitoral do candidato foi interrompida.
Falta esclarecer tiroteio na hora da visita de Tarcísio
As circunstâncias da troca de tiros e os autores dos disparos ainda não foram esclarecidas. As campanhas de Tarcísio e Bolsonaro após o ocorrido adotaram a narrativa de um atentado contra o candidato a governador, mas logo voltaram atrás. A Abin confirmou que um agente estava em licença não remunerada, acompanhando Tarcísio. Mas nega que “o policial citado nas reportagens [da Folha] sobre o caso de Paraisópolis, apontado como autor dos disparos, integre seu quadro de pessoal”.
Segundo currículo apresentado pelo agente licenciado, sua formação militar foi na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). E atuou como oficial de artilharia do Exército de 1996 a 2009, ano em que se tornou servidor na Abin. Em junho de 2019, porém, foi nomeado gerente de projetos da Subsecretaria de Governança e Integridade do Ministério da Infraestrutura por Tarcísio.
Pode ter sido execução, considera Tortura Nunca Mais
Em dezembro de 2021, recebeu a Medalha do Mérito Mauá, do governo federal, em “reconhecimento à contribuição ao desenvolvimento e progresso do setor de transportes”. A indicação foi do próprio Tarcísio.
Segundo a Ponte Jornalismo, o grupo Tortura Nunca Mais São Paulo trabalha com a hipótese de que Felipe Silva de Lima, 27 anos, foi executado em Paraisópolis no dia 17, momento da visita de Tarcísio, quando houve o tiroteio. Ontem (25), a entidade de defesa dos direitos humanos enviou ofício à ouvidoria da Polícia Civil, cobrando o andamento das investigações. Para o presidente do grupo, Ariel de Castro Alves, falta transparência por parte da polícia sobre o que de fato ocorreu no dia da visita do candidato Tarcísio ao local.
“O que precisa se esclarecer é se foi planejado antes pela coordenação de campanha que foram na comunidade que qualquer suspeito que aparecesse, deveriam atirar contra, para apresentar uma versão de atentado contra o candidato, ou se foi uma execução cometida por policiais. O que temos até agora é um crime comum. O homicídio do rapaz, sem confronto e desarmado. E o crime político, da tentativa de criar uma farsa de um atentado inexistente”, disse o presidente do Tortura Nunca Mais.
Fonte: Rede Brasil Atual