As informações são de um estudo feito pelo SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) Brasil em conjunto à CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas).
Para a economista-chefe do SPC Marcela Kawauti, os dados comprovam a importância da atividade do aposentado não só para o próprio sustento, mas também da família. “Claro que tem pessoas que querem se sentir produtivas e ocupar a mente, mas a questão financeira sai na frente”, afirma ela.
O levantamento revela também que nove a cada dez idosos contribuem financeiramente com o orçamento familiar, sendo que 43% são os principais provedores.
De olho no envelhecimento da população e no maior interesse dos mais velhos em voltarem ao batente, projetos de lei tramitam no Congresso e chamam a atenção da sociedade civil.
O economista e professor da USP Hélio Zylberstajn coordenou a criação de um projeto com regras especiais para empregar os mais velhos, com jornada máxima de 25 horas semanais e isenção de contribuição previdenciária.
“Pensamos em criar o equivalente ao regime de estágio dos estudantes só que para os aposentados. As necessidades são diferentes”, diz ele sobre o Reta (Regime Especial de Trabalho do Aposentado), criado pela Fipe (fundação de pesquisas) a pedido Instituto de Longevidade Mongeral Aegon.
Embora o Estatuto do Idoso preveja o empenho do poder público para que as empresas contratem profissionais com mais idade, especialistas dizem que nada foi feito em relação a isso.
A falta de regras também seria um problema legal, sobretudo com o fim da possibilidade de desaposentação.
O advogado Murilo Aith diz que, caso um aposentado volte a trabalhar em um emprego fixo, ele terá que contribuir com a Previdência. “É temerário orientar as pessoas a impetrarem ações neste sentido, pois a chance de conseguir êxito é muito baixa”, diz
Trabalhador acima dos 50 anos já é ‘maduro’ no mercado de trabalho
Empresas têm criado programas para a contratação de profissionais mais velhos, inclusive para quem ainda não chegou formalmente à terceira idade, que, pelo Estatuto do Idoso, começa a partir dos 60 anos.
Fundador da plataforma MaturiJobs, Mórris Litvak, 36 anos, diz que, após fazer uma pesquisa de mercado, constatou que o público acima dos 50 “já fica invisível” para os recrutadores. “A partir dos 40 anos começa a ficar difícil, mas depois dos 50 é ainda mais”, explica.
A companhia aérea Gol criou o Experiência na Bagagem, programa que já intermediou 84 contratações. O auxiliar administrativo José Antônio da Silva, 51, é uma delas e diz que, enquanto procurava trabalho, sentia certo preconceito.
“Confesso que entrei bastante inseguro por causa da questão de idade, porque as empresas dão preferência para os mais novos. No primeiro dia que fui ao refeitório vi pessoas de muitas idades”, diz ele, que considera encorajadora a diversidade etária.
Enfermeira por 35 anos, Carmen Rodrigues, 59, mudou de profissão após se aposentar: agora ela ajuda outros profissionais a se conhecerem e a traçarem objetivos através do chamado processo de coaching.
Trabalhar em áreas em que se tenha vocação e interesse, além de atualização constante de conhecimentos técnicos são essenciais na visão dela para que o aposentado volte ao mercado de trabalho. “Não tem que tentar parecer mais jovem, mas demonstrar preparo é fundamental”, afirma a especialista.
Durante a entrevista, ela recomenda para que o trabalhador ressalte a experiência e bagagem adquirida ao longo da vida.
Áreas como consultoria, prestação de serviços e atendimento costumam valorizar o perfil dos que voltam à ativa, na visão do presidente do IBC Coaching José Roberto Marques. “As empresas compreendem que os profissionais da terceira idade que estão voltando ao mercado são mais comprometidos e focados”, afirma ele.
Fonte: Folha SP