Cartaz do filme Ainda Estou Aqui
O novo filme do premiado diretor Walter Salles, Ainda Estou Aqui (I’m Still Here), é um triunfo de força e paciência. Salles conta a história do sequestro e assassinato do deputado brasileiro Rubens Paiva.
Por Michael Berkowitz
Paiva foi um líder na oposição à imposição da ditadura militar no Brasil em 1964. Engenheiro civil de formação, ele também foi líder do movimento estudantil O Petróleo é Nosso, uma campanha nacionalista progressista contra a exploração dos recursos petrolíferos do Brasil por empresas estrangeiras e corporações.
Em 1962, Paiva foi eleito deputado federal por São Paulo pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Quando os militares deram o golpe, a ditadura resultante depôs Paiva e outros democratas de seus cargos públicos. Exilou-se voluntariamente, primeiro na Europa, mas acabou retornando ao Brasil. Durante todo esse tempo, continuou a trabalhar com a esquerda brasileira, fundando um jornal dissidente e ajudando a financiar e aconselhar grupos determinados a substituir a ditadura.
Em 20 de janeiro de 1971, ele foi preso sob acusação de envolvimento com terroristas. Em retrospecto, sua prisão pode ter sido um caso de identidade equivocada ou um ataque preventivo contra um oponente de longa data da ditadura.
O filme mostra a luta de Eunice
O filme de Salles é ancorado no período anterior à prisão de Paiva e segue por sua detenção e morte, passando pelas reações e o enfrentamento de sua esposa e família, concluindo com um breve epílogo.
O foco é a luta heroica da esposa de Paiva, Eunice Paiva, interpretada pela brilhante Fernanda Torres em uma performance magistral. Sem errar o tom, Torres transmite a profundidade da emoção de uma mulher que deve manter sua família de cinco filhos pequenos unida enquanto busca respostas sobre onde seu marido foi levado e quando será devolvido.
O entrelaçamento do drama intenso com as ocorrências mundanas da vida desafia os recursos e a determinação de Torres.
Ela enfrenta uma burocracia hostil em busca de respostas. Ela cria e educa seus filhos. Ela explora as profundezas de suas convicções, encontrando propósito ao conquistar um diploma de Direito na meia-idade, para passar o resto da vida lutando pelos direitos dos povos indígenas no Brasil.
Valores progressistas
Ainda Estou Aqui é, portanto, a história da resiliência humanitária diante de uma oposição esmagadora. Uma família unida pela tragédia infligida pela direita. É uma história sobre construir uma vida com significado, através do compromisso com valores progressistas.
A performance delicada de Torres é auxiliada pelo roteiro realista dos escritores Murilo Hauser e Heitor Lorega, que basearam seu trabalho no livro de memórias de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice, publicado em 2015.
O maior dos diretores brasileiros, Walter Salles (Central do Brasil e Diários de Motocicleta, a história da juventude de Che Guevara), guiou firmemente o filme para reconhecer os perigos políticos, enquanto homenageia os relacionamentos familiares que moldaram e alimentaram essa vida extraordinária. Salles conhecia pessoalmente a família Paiva, passando anos formativos em sua casa e creditando sua influência em seu próprio desenvolvimento político.
A importância dessas lições não pode ser subestimada, em um momento em que nosso próprio país enfrenta ameaças semelhantes de governo autoritário e perigos políticos de direita. A referência no título — Ainda Estou Aqui — não se refere apenas aos personagens heroicos do filme, mas também à classe trabalhadora, que leva adiante a luta por mudanças sociais.
Michael Berkowitz, veterano dos movimentos pelos direitos civis e contra a guerra, foi consultor de Planejamento de Uso da Terra para o governo da China por muitos anos. Ele lecionou História Chinesa e Americana em nível universitário, trabalhou com a Eastern Kentucky Welfare Rights Organization, junto a mineiros, e foi dirigente do SEIU.
Texto traduzido do People´s World por Luciana Cristina Ruy
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