Por Carolina Maria Ruy
A vida está em suas mãos. A morte em suas cabeças! (Life is in their hands. Death is on their minds!) foi o slogan de lançamento do filme Doze Homens e uma Sentença. Trata-se de uma charada sobre responsabilidades sobre a vida das pessoas no ato de julgá-las.
Todo o filme se passa em uma sala. Mas mesmo assim ele é dinâmico. O instigante debate entre os doze jurados para proferir a sentença contra um jovem porto-riquenho acusado de assassinar o próprio pai, resultou em uma obra cinematográfica de grande valor humanista.
Logo na primeira cena o juiz deixa claro: “Um homem está morto. A vida de outro está em jogo. Se houver dúvida razoável sobre a culpa do acusado, devem entregar-me o veredito de inocente. Se, entretanto, não houver, devem, em sã consciência, declarar o acusado culpado. A sentença de morte é compulsória neste caso. Estão frente a grande responsabilidade”.
Ao entrar na sala, antes do debate, a maioria dos doze homens já está convencida da culpa do garoto que, deveria, então, ser condenado à cadeira elétrica. Mais do que julgar à primeira vista, eles demonstram querer livrar-se logo daquele encargo. Preocupados com outras coisas os onze jurados relutam em ficar ali, com um caso cuja solução lhes parecia óbvia.
Entretanto, o décimo segundo jurado – o arquiteto Davis, pondera que se trata de decidir sobre a vida de um jovem e afirma que teme tomar a decisão errada. Assim, mesmo que a contragosto da maioria, inicia-se o debate.
Cada prova é debatida. A persistência de Davis traz à tona as peculiaridades de cada indivíduo. Preconceitos de raça, de classe, geração, idade e profissão transparecem na discussão. Muito além de um julgamento, as reações dos jurados, os conflitos de personalidade e os temperamentos diferenciados dos personagens provocam reflexões sobre o comportamento humano e sobre a formação social e cultural da consciência.
Interessante ressaltar a questão da responsabilidade sobre o outro e a importância de uma ação individual dentro de um grupo. A responsabilidade social. Ao trabalhar coletivamente a opinião de uma pessoa, mesmo que contrária a todas as outras, pode fazer a diferença.
Comumente a cultura e a ideologia dominantes estão impregnadas de preconceitos e de uma apresentação tendenciosa dos fatos, no sentido de “fazer a cabeça” da maioria. E só o exame detalhado dos fatos, da política, dos movimentos sociais etc., pode levar a conclusões diferentes daquilo que é apresentado como verdade. Há uma poderosa máquina de persuasão ideológica, formada pela imprensa, que manipula os fatos de acordo com interesses privados das forças dominantes, e que só mostra ao seu público aquilo que considera verdade. Cabe ao trabalhador refletir sobre o encadeamento dos fatos, ou a falta de encadeamento. Cabe ao trabalhador compreender a ação coletiva, dentro da qual sua opinião é de grande responsabilidade.
Doze Homens e uma Sentença (Twelve Angry Men)
EUA, 1957
Direção: Sidney Lumet
Elenco: Henry Fonda, Martin Balsam, Lee J. Cobb, Jack Warden, E.G. Marshall
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical. Do livro “O mundo do Trabalho no cinema”, publicado por Centro de Memória Sindical
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