Por João Carlos Juruna, Wagner Gomes e Álvaro Egea
O ato do 1º de Maio realizado pelas centrais sindicais neste ano foi uma demonstração de força, superação e união.
Força porque ficamos quase seis horas no ar com grande audiência. Superação porque, mesmo durante a crise sanitária e financeira causadas pela pandemia do coronavírus, e mesmo sob a crise financeira que o movimento sindical atravessa, realizamos um evento moderno e inovador que contemplou os principais temas que preocupam a sociedade brasileira na atualidade. União porque, além de o 1º de maio ter sido realizado com nove centrais sindicais, contamos com a participação de personalidades de diferentes correntes políticas como: Luís Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes e Marina Silva. Eles, que nas últimas eleições foram adversários, se juntaram no palanque virtual do Dia do Trabalhador com um objetivo comum: a defesa da democracia e a soberania nacional.
E este foi o objetivo que nos guiou na construção deste 1º de Maio. Mais do que uma celebração e até mais que um dia para reafirmar nossas bandeiras de luta, neste ano o Dia do Trabalhador foi uma resposta à ameaça de volta de um regime autoritário e submisso aos EUA que o povo brasileiro tem sofrido diuturnamente desde a posse de Jair Bolsonaro como presidente da República. Este caráter de reação ganhou contorno no dia 19 de abril, um domingo, quando Bolsonaro descaradamente incentivou sua trupe a pedir, em frente ao QG do exército de Brasília, o fechamento do Congresso, a ofender o STF, e clamar por uma nova ditadura. De uma só vez ele desrespeitou a Constituição e a necessidade de isolamento social para conter o avanço do coronavírus.
Este fato extremamente grave e que vem sendo repetido com frequência, foi o que nos motivou a buscar somar as forças políticas do país, porque só com democracia e soberania é possível lutar e conquistar direitos sociais e trabalhistas. Só com democracia e soberania é possível atingir uma sociedade com maior equidade e justiça social para todos, mulheres, homens, homossexuais, jovens, idosos, negros, brancos, orientais, indígenas, pela defesa do trabalho, do emprego, do meio ambiente, da emancipação humana e pela paz social.
Mas, embora seja fundamental, esta soma de forças não foi, e não é, fácil. Sentimos na pele que a política ampla e unitária não se faz apenas de palavras e intenções. Ela resulta de toda uma trajetória de diálogos, demonstrações de confiança, concessões e tolerância.
Reconhecemos que, ainda que tenhamos produzido aquele belo 1º de maio virtual, temos muito a amadurecer e avançar na construção da unidade.
Precisamos, nós sindicalistas das mais diversas tendências, que nos aprofundar no esforço de compreender que a verdadeira unidade não deve ser apenas entre quem comunga das mesmas ideologias. A unidade que queremos deve ser fortemente representativa e deve contemplar visões diferentes para além dos nossos tradicionais grupos. Ela é o contrário do sectarismo e do hegemonismo, que são formas de autoritarismo.
É um erro pensar que o objetivo da amplitude de forças políticas é apenas o de aumentar numericamente o nosso lado. Assim como é um erro pensar que todos aqueles que se juntarão a nós serão catequisados e cooptados ideologicamente. A ideia de unidade colocada aqui é juntar quem pensa diferente em nome de um objetivo comum. É buscar os pontos de convergência para o bem do Brasil e, sobretudo, dos trabalhadores.
O 1º de maio das centrais corajosamente deu esse passo à frente das articulações políticas e partidárias. Das 11 centrais que se propuseram a fazer o ato, apenas duas declinaram no percurso, algo que, em nossa opinião, foi uma falta de compreensão da necessidade de amplitude.
Hoje vemos que o saldo político foi muito positivo. Conseguimos furar a bolha e nos recolocamos com altivez no debate político. Transformamo-nos em um polo aglutinador de partidos, movimentos sociais e instituições democráticas. Um exemplo para os demais países, e principalmente para nós mesmos.
A unidade e amplitude criadas pelos trabalhadores não pode se limitar a um evento, a uma atração virtual para um dia comemorativo, nem tampouco se limitar às centrais sindicais.
O grande legado do 1º de Maio de 2020 é a afirmação de que o momento atual exige de todos aqueles que defendem a democracia e a soberania – partidos, instituições, a sociedade civil, etc – busquem também a convergência no combate intransigente ao autoritarismo e ao retrocesso.
Parabéns à Força Sindical, CTB, CSB, CUT, UGT, Nova Central, CGTB, Intersindical e Pública!
Ficou demonstrado que, com força, superação e união podemos avançar!
João Carlos Juruna é secretário geral da Força Sindical
Wagner Gomes é secretário geral da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)
Álvaro Egea é secretário geral da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB)