PUBLICADO EM 15 de fev de 2022
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A classe capitalista apoia a democracia?

A classe capitalista apoia a democracia? Ou eles estão mais confortáveis lucrando com tiranos?

Invasão ao Capitólio, Washington, EUA, em janeiro de 2021. Foto: Twitter

Por Mark Gruenberg (People’s World)

Duas observações instigaram essa linha de pensamento. Uma, familiar a cada trabalhador, é que os chefes do mundo – e não apenas nos EUA – rotineiramente reprimem seus empregados. Eles precisam do apoio do governo, ou, na pior das hipóteses, indiferença, para se safarem disso. Isso é fácil sob ditaduras de direita.

A outra foi motivada lendo o testemunho do Local 1400 dos Trabalhadores de Comunicação para a Comissão de Comércio da Câmara, março último, no processo de fazer uma história sobre o Google, também conhecido como Alphabet.

Líderes do local, que apenas entraram com pedido para reconhecimento sindical em uma subsidiária contratada do Google, em Kansas City, disseram ao painel, então, sobre a flagrante negligência da empresa das normas e valores democráticos. A evidência: a recusa do Google de agir contra os grupos de ódio, supremacistas brancos e trumpistas, que usaram suas plataformas para tramar a derrubada da Constituição dos EUA, para que seu líder pudesse continuar no Salão Oval. Os incitadores da internet também incluíam Donald Trump.

E o Google, sob fortes protestos de seus próprios trabalhadores, não bateu uma pestana. E daí se a democracia vai pelo ralo para os insurretos que invadiram o Capitólio dos EUA janeiro de 2021?

O testemunho nos faz pensar. A classe corporativa rotineiramente se enrola patrioticamente na bandeira dos EUA. Isso é bem diferente da pequena bandeira “democrática” “d” da liberdade de expressão, liberdade de imprensa, eleições legítimas, devido processo legal e o direito de se organizar em sindicatos etc.

Então os CEOs do mundo apoiam a democracia da boca para fora, assim como eles apoiam o direito dos trabalhadores de escolherem sindicatos, quando têm que encarar movimentos de organização?

Para parafrasear o Procurador Geral do Presidente Republicano Richard Nixon, o notório John Mitchell, da infâmia do Watergate: “Observem o que nós fazemos, não o que nós dizemos.” E quando você vê as ações da classe corporativa face a face com a democracia, o quadro não é bonito. Alguns exemplos:

Foram os lobos de Wall Street, todos capitalistas, que conspiraram com a Legião Americana (!) em uma trama, em 1934, para substituir Franklin D. Roosevelt, aquele traidor de sua classe, ou deixa-lo como uma figura de proa ou substitui-lo pelo general aposentado Smedley Butler. Butler soprou o apito.

Foram os CEOs de grandes corporações, alemães e americanos, que apoiaram o ditador que os forneceu receitas e lucros, enquanto anulando ou matando sindicalistas e dissidentes… Hitler. Não acredita? Leia as seções da era nazista do The Arms of Krupp.

Não por nada as pequenas nações da América Central são há muito conhecidas como “repúblicas de bananas”. Quem realmente as governavam, seus desfiles giratórios de presidentes – ou a United Fruit?

Quando os EUA mandaram os Marines para o Haiti (1915-34) e para a República Dominicana (1965), ou a CIA para a Guatemala (1954), quem se beneficiou? Dica: não foi você ou eu.

Capitalistas corporativos estão bem em casa, obrigado, fazendo negócios com déspotas. Começa com a ARAMCO e Mohammed bin Salman, na Arábia Saudita, e continua.

Como o comitê seleto da Câmara investigando a insurreição no Capitólio está descobrindo, o dinheiro que pagou por isso não veio dos invasores da cidadela da democracia, mas de bandidos corporativos e grandes doadores Republicanos, que também financiaram a campanha de Trump.

Nós podíamos continuar para sempre, usando exemplos extraídos tanto de eventos atuais, quanto históricos. Mas as evidências continuam se acumulando. Bandidos corporativos e chefes, frequentemente um e o mesmo, amiúde preferem lidar com ditadores do que seguir as normas democráticas. Apenas pergunte ao Local 1400.

Mark Gruenberg é jornalista, chefe do escritório da People’s World, em Washington, DC. Ele também é editor do serviço de notícias do sindicato Press Associates Inc. (PAI).

Fonte: People´s World

Tradução: Luciana Cristina Ruy

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