Podemos discutir a natureza e o processo dos sufrágios e enveredar por meandros mil e discussões teóricas e ideológicas intermináveis e inconclusivas a respeito, mas o propósito dessa reflexão é modesto, estanque e pragmático.
Nos últimos dias tem tomado corpo a questão do chamado voto útil. Houve quem substituísse a expressão por voto consciente, ao que sugiro – mesmo considerando a segunda forma bem colocada – pensarmos na ideia do voto político.
Não se trata necessariamente de convencer partidos ou partidários, candidaturas e eleitores, a abdicar de suas pretensões, mas de dizer que o atual momento torna lícito um comportamento eleitoral dirigido, altruísta e responsável, com vistas a derrotar o germe fascista que ameaça dominar a vida nacional.
Digo voto político pela obviedade da primazia da política como meio da tomada de decisão consciente e útil. Também pelo fato de organizar, hierarquizar e priorizar a mesma decisão conforme a realidade concreta e objetiva, onde os fatos falam por si.
É preciso resgatar e estimular o voto político, essa capacidade em definir a contenda eleitoral de modo a encerrar um ciclo e abrir outro, mais promissor e fecundo em termos de debate societário, disputa de projetos e formação de maiorias ou entendimentos comuns.
O voto político aqui reivindicado é, portanto, uma espécie de convergência momentânea, não contratualizada, mas que pode resolver a contradição e o problema fundamental do cenário: o reavivamento dos princípios minimamente democráticos e institucionais abalados desde 2016.
Sua expressão prática indica o direcionamento do voto para a candidatura que reúna as exigências urgentes na perspectiva do triunfo da civilidade. Serve tanto para decidir a eleição presidencial de uma só vez, quanto para excluir da segunda volta aquelas candidaturas oportunistas que se valem das regras democráticas para violá-las agora e no futuro.
A partir dessa postura e sendo o voto capaz de provocar a mudança inicial, as demais peleias sociais, partidárias e programáticas evoluiriam num ambiente propício não só à democracia, mas também ao desenvolvimento, direitos e inclusão social.
Dar, individual ou coletivamente, um voto político é afiançar pontualmente a confiança, o compromisso e a cobrança com o Estado Democrático de Direito, Nacional Soberano e de bem-estar social.
Quem representa, aqui e agora, a oportunidade de virar a chave e criar caminhos para a reconstrução do país em nível de Estado e sociedade merece a consideração do voto político, pois ele é a salvaguarda de sobrevivência da frágil democracia que ainda nos resta e que demandará grande esforço de reconstrução.
Alex Saratt é Professor das redes públicas municipal e estadual em Taquara (RS), 1° vice-presidente estadual do Cpers, Secretário de Comunicação da CTB RS e Secretário Adjunto da CNTE