PUBLICADO EM 09 de mar de 2018
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Igualdade entre mulheres e homens: um sonho a mais

A construção das condições, oportunidades e situações de igualdade entre mulheres e homens ainda é enorme desafio para a sociedade brasileira. Um problemão que precisa ser relembrado e enfrentado cotidianamente.

Neste 8 de março, duas importantes divulgações relembram esse desafio: “Estatísticas de gênero”, do IBGE (www.ibge.gov.br) e “Mulheres no mercado de trabalho metropolitano de São Paulo 2018”, do DIEESE e Fundação Seade (www.dieese.org.br ou www.seade.gov.br – este material também foi produzido para as regiões metropolitanas de Porto Alegre, Salvador e para o DF, em conjunto com outros parceiros).

Os estudos mais uma vez confirmam que: as mulheres trabalham mais, pois além da jornada no emprego, quase sempre recaem sobre elas as responsabilidades com os cuidados da casa e família; elas estudam mais e têm escolaridade mais elevada; o cuidado com filhos, doentes e idosos é responsabilidade delas; e elas ganham menos! Os estudos esmiúçam dados que, ano após ano, mostram que o problema é grave.

A situação já foi muito pior, mas a transformação é lenta. E é uma árdua luta feminina que tem forçado as mudanças, apesar das múltiplas resistências. Começando pela casa, é fundamental que haja equilíbrio entre homens e mulheres nos afazeres domésticos e responsabilidades com a educação dos filhos, o cuidado com crianças, adolescentes, velhos e doentes. Além de contribuir para uma situação mais equânime, isso ajudaria homens a aprender mais sobre certas questões da vida.

No mercado de trabalho, a mulher ampliou a participação nas últimas décadas, mas esse crescimento estagnou nos anos recentes. A jornada em tempo parcial é maior entre elas, uma forma de dar conta de todas as demais responsabilidades familiares. As mulheres trabalham predominantemente no setor de serviços e são a maioria absoluta no emprego doméstico. A taxa de desemprego entre elas é maior e a remuneração é menor do que a deles. Para as mulheres negras, a situação piora em todos os aspectos.

Para a mulher entrar em condições de igualdade no mercado de trabalho, a oferta de creche, educação infantil e educação básica em tempo integral é fundamental.

A desigualdade está em todos os espaços. De cada 10 parlamentares, somente 1 é mulher. E as mulheres representam mais da metade da população que vota! São os homens quem fazem as leis e definem as regras do jogo social. Como mudar?

Os homens são craques na arte de dominar e garantir a desigualdade a seu favor. Conseguiram, por exemplo, transformar o papel que a natureza delegou à mulher, na questão da reprodução, em algo de menor importância. Depois a elas foi atribuída a obrigação com o cuidado com os filhos, a casa e com velhos e doentes, tarefas dadas como “naturalmente femininas” e que nem sequer eram consideradas trabalho. Quando as mulheres finalmente conseguiram sair de casa e chegar ao mercado de trabalho, essas atribuições sociais continuaram a repercutir na busca por emprego, na qualidade e no tipo das ocupações, nos salários.

Governantes e parlamentares – homens! – têm a cara de pau de afirmar: a mulher deve se aposentar com a mesma idade dos homens. Irônicos, não deixam de tirar uma lasquinha: elas não querem a igualdade?

Sem ilusões: os preconceitos também estão arraigados entre os trabalhadores e perpassam a estrutura e organização sindical. Basta observar uma reunião, uma assembleia ou a composição de uma diretoria sindical. Quem fala, quem manda e quem obedece… A mulher também está menos presente no meio sindical.

Com certeza absoluta, a luta pela igualdade entre homens e mulheres é uma afirmação politica central no processo civilizatório. Essa luta começa e recomeça todos os dias. Deve constituir os sonhos que temos ao dormir e aqueles pelos quais lutamos.

Clemente Ganz Lúcio é Diretor Técnico do Dieese

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