por Marcos Aurélio Ruy
Muita felicidade para o Brasil um artista da grandeza de Gilberto Gil completar 80 anos neste domingo (26). “Eu soube que a música era minha linguagem mesmo. Que a música ia me levar a conhecer o mundo, ia me levar a outras terras. Porque eu achava que tinha a música da terra e a música do céu”, diz Gil ao sintetizar a sua obra.
É o que se sente em toda a sua obra. Uma mescla de sons regionais da Bahia e do Nordeste com bossa nova, samba, rock, jazz, blues, reggae e muitos outros sons. Gil está no time dos autores brasileiros que forçou a crítica musical a chamar de MPB o trabalho feito por eles, criando um gênero por exclusiva falta de ter como definir essa nova música que surgiu nos festivais dos anos 1960.
A personalidade e o talento de Gilberto Gil despontam em um trabalho vigoroso, que releva a herança africana em nossa cultura a brilhar com um canto em defesa da diversidade e do respeito ao diferente, à natureza, à liberdade e à vida.
Destaque presente nas suas trilhas Refazenda (1975), Refavela (1977) e Realce (1979), nas quais entram em cena o Brasil em todas as suas nuances e a conclusão de “quanto mais purpurina melhor” para todas as pessoas brilharem sem medo.
Como o próprio artista define, “o melhor lugar do mundo é aqui e agora” e por isso ele aceitou a incumbência de realçar o Ministério da Cultura no primeiro governo do Presidente Lula, o que fez com brilhantismo por cinco anos.
E voltou à música, o seu lugar de sempre. Como um dos criadores do movimento tropicalista, revolucionou a música popular brasileira ao lado de outros gigantes. A sua obra transparece singular no modo de tocar o seu instrumento, na sua interpretação única e na mistura de sons ligados à poesia de maneira intrínseca, compondo um todo harmonioso.
Gil nasceu em Salvador, Bahia, em 26 de junho de 1942, e cedo sua veia musical brilhou. Assim, o mundo perdeu um mau administrador de empresas, curso no qual o artista baiano se diplomou pela Universidade da Bahia, e ganhou um músico de rara sensibilidade.
Importante celebrar essa efeméride como uma data marcante da vida cultural brasileira e, neste momento, destacar a veia poética do cantor da felicidade que em nenhum tempo sucumbirá. A música de Gilberto Gil está para o mundo como os rios que correm para o mar imanentes perante as margens que tentam aprisionar suas águas.
Porque “não tenho medo da vida, mas medo de viver, sim”, canta ele em Não Tenho Medo da Vida (2010), afinal “a vida é um dado em si, mas viver é que é o nó/Toda vez que vejo um nó, sempre me assalta o temor/Saberei como afrouxá-lo, desatá-lo eu saberei?” Os sentidos e os saberes propagados por esse gigante da cultura comprovam que sim, ele tem sabido e muito bem afastar todos os cálices de vinho tinto de sangue.
As centenas de canções compostas por ele sozinho ou em parcerias jamais sairão do imaginário popular porque cantam as transformações necessárias para a civilização avançar a um patamar superior de vida. Como o artista diz, “tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei/ Transformai as velhas formas do viver (Tempo Rei, 1984)”.
Salve Gilberto Gil em seus 80 anos “purpurinando” a cultura brasileira. Atentem ao seu recado em OK Ok Ok (2018):“Já para os que me querem mais ativo/Mais solidário com o sofrer do pobre/Espero que minha alma seja nobre/O suficiente enquanto eu estiver vivo”. Que viva ainda muitos e muitos anos para o bem de nosso cérebro, de nossos olhos e ouvidos.