Alexandre de Moraes, principal desafeto de Bolsonaro, presidirá o TSE no processo eleitoral de 2022 – Foto: Marcos Corrêa/PR
Não se sabe até o momento qual o teor do diálogo entre Jair Bolsonaro e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, na noite da quarta-feira (22). Eles se encontraram na residência oficial do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para um jantar em homenagem aos 20 anos do ministro Gilmar Mendes na Corte. Magistrado e presidente da República teriam conversado reservadamente em uma sala após o jantar “a portas fechadas”, pelo menos segundo relato da imprensa.
De acordo com políticos presentes no jantar, houve momentos de constrangimento, devido à tensão entre Moraes e Bolsonaro, mas não de agressividade. Eles ficaram em pontas opostas na mesa. Segundo um participante do encontro ouvido pela reportagem, “Bolsonaro estava com cara de mundo paralelo”.
Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e Lira fizeram breves discursos, enaltecendo Gilmar Mendes. Ricardo Lewandowski também destacou a história de Gilmar, mencionando que tiveram divergências e confluências, elogiando o conhecimento do colega, sua trajetória desde a cidade natal, Diamantino, até o STF. Lewandowski falou da democracia, das instituições, da coragem de Gilmar como formador de opiniões.
Na sua vez, Gilmar surpreendeu, comentando o caos da Saúde. Deu um “duro recado” a Bolsonaro, relatou um deputado à RBA, sob condição de anonimato. “Duro não em agressividade, mas ao falar de democracia, da capacidade que precisamos ter de escutar o outro mesmo divergindo, levando em conta as opiniões diferentes”, contou. Gilmar ainda falou em devolver a política aos políticos.
Pena e vergonha
Segundo o parlamentar, o sentimento que Bolsonaro lhe inspirou foi de “pena e vergonha”. Mas não pena do presidente, e sim da instituição Presidência da República. “Falaram os presidentes das duas casas legislativas, ministros do STF, André Mendonça pediu a palavra e falou de Gilmar – mas o presidente da República mesmo, não abriu a boca. Pelo Executivo ninguém falou. A minha sensação é que se ele tivesse que falar, não saberia o que dizer. Fiquei com vergonha da Presidência da República”, disse o deputado, desconsiderando que o presidente fez piadinhas sobre futebol ao chegar e cumprimentar Moraes.
O evento reuniu vários ministros do STF, além dos ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira, e da Justiça, Anderson Torres. Estiveram presentes líderes das bancadas do PT (Reginaldo Lopes – MG), da Minoria (Alencar Santana -SP), do PCdoB (Renildo Calheiros – PE), além de Orlando Silva (PCdoB-SP) e a deputada Rosa Neide (PT-MT), que nasceu na mesma cidade do homenageado Gilmar Mendes.
O ministro Alexandre de Moraes – principal desafeto de Bolsonaro hoje no país – vai ocupar a presidência do Tribunal superior Eleitoral (TSE) em pleno processo eleitoral. Ele foi eleito em votação simbólica para o posto em sessão protocolar na semana passada. O exercício do cargo por ele já estava definido. Ele vai substituir o atual presidente, Edson Fachin.
Eleição promete tensão
Moraes vai conduzir o processo eleitoral que tem sido sistematicamente atacado por Bolsonaro. O presidente tenta jogar a população contra as urnas eletrônicas e afirma direta ou indiretamente que os sistema permite fraudes. Ainda não se sabe se suas ameaças são apenas bravata para alimentar o ânimo de seus seguidores ou se ele pretende de fato tentar um golpe.
O auge dos ataques de Bolsonaro ao STF e a Moraes se deu em 7 de setembro do ano passado, quando ameaçou descumprir decisões do magistrado, atacou o ministro e o sistema eleitoral. Ao ser eleito, dia 14, Moraes alertou: “A Justiça Eleitoral não tolerará que milícias pessoais ou digitais desrespeitem a vontade soberana do povo e atentem contra a democracia no Brasil”.
Fonte: Rede Brasil Atual
