Percorrer as ruas das grandes cidades têm sido uma dor e agonia. A miséria esbofeteia nossas consciências com força e brutalidade. O espetáculo do capitalismo decadente e indecente perturba a sanidade mental, o equilíbrio espiritual e os princípios morais.
Traduzir isso em política, organização e luta é um desafio e chave para pensar superação e mudança. Mas o centro das cidades é também ilusório, dá conta de uma exclusão que nem sempre é vista e compreendida nas periferias. Nesses territórios distantes geográfica e ideologicamente, a tragédia intencional e programada da fome se mostra muito mais profunda, enraizada e sistêmica.
As massas populares vivem hoje com fome. Seus trabalhos não são suficientes nem mesmo para pôr o básico na mesa e enquanto forjamos uns pouquíssimos bilionários, esquecemos da multidão famélica que sequer encontra e atinge sua mínima necessidade e dignidade diária.
Como diria Bertolt Brecht: é preciso mudar todo o Estado. Me atrevo a dizer: não só o Estado enquanto estrutura e instrumento de poder, mas o estado (em minúsculas) das coisas. Basta refletir um milésimo de segundo e perguntar: é possível pobreza, miséria e fome num país tão rico? O furo da bala bem sabemos qual é. E também temos a solução. No conjunto de condições e situações dadas não tenhamos dúvidas: é preciso vencer o atual projeto encarnado num governante cujas credenciais são a mentira, o preconceito, a violência e o ódio a serviço de um retrocesso miserável, mesquinho, doentio e covarde.
Guardadas as devidas diferenças, voltamos às dísticas de 2002: vencer o medo e botar três refeições na mesa do brasileiro – não como assistencialismo, mas como resultado de emprego, salário, preços acessíveis e distribuição de renda. Mas 2022 não é 2002. O inimigo é muito mais perigoso, traz no seu DNA o germe nazista, quer transformar a desgraça em mote para o obscurantismo, extremismo e a ditadura aberta do Capital. Equivaler momentos e circunstâncias históricas distintas nos levará ao erro, ao fracasso e ao sofrimento.
Fazer da fome, o elemento mais grave e profundo da política de Bolsonaro, o centro da realidade e explicar, com paciência e dedicação, o que fomos e o que seremos, é a medida mais justa para que recobre ao povo não só a memória, mas a perspectiva. E a exigência de tudo isso se converge em Democracia, Direitos e Desenvolvimento, apresentadas de modo prático e concreto na forma de geração de emprego, garantia de políticas públicas e combate a fome. Falar com o povo tal qual o artista: onde ele está. Só assim a morte será objeto de recusa e a miséria não estará em qualquer – e em todos- os cantos.
Alex Saratt é Professor das redes públicas municipal e estadual em Taquara (RS), 1° vice-presidente estadual do Cpers, Secretário de Comunicação da CTB RS e Secretário Adjunto da CNTE