PUBLICADO EM 21 de mar de 2022
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Breve histórico sobre a Greve dos 300 mil em São Paulo

Ao assumir o governo, em 1951, Getúlio Vargas havia encontrado um Brasil diferente do que tinha deixado em 1945, quando da sua deposição pelos militares. Politicamente falando existiam vários brasis. No interior, no chamado Brasil profundo, as regras do jogo pouco ou quase nada se haviam alterado. Os pobres e mesmo pessoas de nível médio continuavam a eleger os de sempre: os “coronéis”. As mudanças de verdade estavam a ocorrer nos grandes centros urbanos resultado do processo de industrialização e consequentemente levando ao surgimento de um proletariado de base ampliada, se comparado com a fase anterior.

Nesse período existia no país cerca de duas mil organizações sindicais, a maioria delas nas grandes cidades. A explosão urbana (crescimento desordenado) e as dificuldades econômicas, em razão da baixa renda e ainda altos índices inflacionários, além de crise institucional, começam a causar inquietação social e as manifestações explodem.

Em 1952 são realizadas manifestações em diversas cidades brasileiras. Milhares de pessoas se mobilizam para exigir mudança na política econômica (campanha da “Panela Vazia”). Entretanto, o grande confronto entre o sindicalismo, governo e patrões irá ocorrer entre março e abril de 1953 com a greve dos 300 mil, a partir de uma manifestação dos trabalhadores têxteis em São Paulo que reivindicavam aumento salarial de 60%. Há, em um primeiro momento, uma clara recusa dos patrões e governo em encontrar uma solução para o impasse criado.

Jornal carioca “Voz Operaria” mostra a greve em São Paulo

Os metalúrgicos aderem ao movimento e a quantidade de trabalhadores aumenta substancialmente. Após um mês as paralisações atingiam o Estado de São Paulo inteiro, inclusive os portos e outras categorias profissionais (gráficos, condutores, ferroviários, etc.). Com isso, entra em ação a mão pesada da repressão e as prisões se sucedem. Entretanto, quanto mais elas aconteciam mais a população ficava enfurecida. A resistência operária gera certa divisão entre governo e patrões. Segadas Viana, ministro do Trabalho, desorientado, “racha” com o empresariado e a culpa passa a ser atribuída pela imprensa aos comunistas e ao próprio Vargas.

Final das contas os trabalhadores obtiveram aumento que variaram entre 32% a 70%, conforme o trabalho organizativo de cada categoria. Além disso, ficou assegurado a volta ao trabalho e a libertação dos presos.

Historiadores e especialistas no assunto são unânimes em afirmar que as consequências da greve foram além da conquista salarial. Surgiram desta mobilização lideranças novas mais politizadas e vinculadas a partidos políticos (PCB e PTB e ao janismo), bem como aos sindicatos, Viana fora substituído por João Goulart, enquanto o CIG (Comando Intersindical de Greves) criado no momento do embate por direitos não deixaria de existir assim tão facilmente. Como resultante dessa obra (o CIG) nasce o Pacto de Unidade e Ação (PUA), embrião do futuro CGT (Comando Geral dos Trabalhadores) que terá papel de destaque durante o governo Goulart (1961-1964).

Moral da história: a famosa greve dos 300 mil contribuiria para criar uma organização sindical paralela ao sindicalismo oficial varguista. Consideremos, pois, que se estava no período da chamada  “Guerra Fria” e com manifestações dessa natureza, a reação conservadora passa a combater essa coordenação, a classe média treme de medo e políticos populistas, como Jânio Quadros se aproveitam para viabilizar o seu projeto pessoal. Não se pode esquecer que, em agosto de 1954, ocorre o suicídio de Vargas. Eis aqui um breve relato sobre um momento importante da história brasileira que, ao contrário de outros, tem o povo na condição de protagonista.

José Raimundo de Oliveira é historiador, educador e ativista social.

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