Até alguns dias atrás, Monark, para mim, era simplesmente uma fábrica de bicicletas. No início da década de 1980, ganhei uma de meus pais. Era ‘dobrável’. Sim, tinha um parafuso no meio do quadro, permitindo que fosse dobrada para facilitar guardá-la ou colocá-la no carro de viagem.
Daquela Monark até hoje, houve extraordinária evolução tecnológica. As bicicletas de agora são bem melhores. Não sou dos saudosistas que louvam o passado em detrimento do presente. O mundo está em evolução e as condições de vida atuais são melhores que as do século passado.
Gostaria de continuar falando de bicicletas, que ainda uso em belos passeios pela orla das praias de Guarujá. Mas falarei de Monark, o influenciador digital Bruno Aiub. Eu não sabia de sua existência, o que aconteceu por seu palpite infeliz sobre nazismo.
Ele defendeu a criação de um partido nazista, num programa ao vivo com os deputados Kim Kataguiri e Tábata Amaral. Depois, diante da repercussão negativa, pediu desculpas, alegando estar alcoolizado. Como assim? Um influenciador digital alcoolizado, ao vivo?
O sujeito tem milhões de seguidores, a maioria jovens, mas nem todos defendem um partido nazista. Defender o nazismo é não conhecer a verdade. É desconhecer que o regime perseguia e matava não apenas judeus, mas também ciganos, comunistas, negros, homossexuais…
O nazismo exterminou os que dele discordaram. Velhos, homens, mulheres, jovens e crianças morreram. Só de judeus, cinco milhões. Os assassinatos ocorriam em todas as áreas do território ocupado pelos alemães onde agora estão 35 países europeus.
O extermínio foi mais grave na Europa Central e Oriental. Só na Polônia ocupada, mataram três milhões. Na União Soviética, mais de um milhão. Centenas de milhares morreram na Holanda, França, Bélgica, Iugoslávia e Grécia.
Qualquer pessoa com avós judeus era exterminada em terras controladas pela Alemanha nazista. Infelizmente, muitos propagam essa ideologia. Num tempo em que a história é esquecida, como eu queria que hoje Monark fosse somente uma bicicleta.
Porém, em que pese todo o perigo de ressurgimento de ideais nazistas, há de se tomar cuidado com a possibilidade desses posicionamentos anacrônicos e abjetos serem aproveitados pelo sistema para cercear cada vez mais a liberdade de expressão.
O rapaz com nome de bicicleta, visivelmente despreparado do ponto de vista intelectual para o exercício de comunicador responsável, pode ter representado propositalmente um personagem para justificar a censura que se apodera das redes sociais.
Com a desculpa de conter notícias falsas, popularmente conhecidas por ‘fake news’, as instituições podem se aproveitar de insanidades como as proferidas por Monark para interditar opiniões que contrariem interesses de poderosos grupos oligárquicos.
Daqui a pouco, por exemplo, com base no precedente desse caso do nazismo, podem considerar crime de expressão alguém defender aberta e sistematicamente o comunismo. E aí estariam indo pelo ralo as liberdades democráticas do liberalismo.
Zoel é professor, formado em sociologia e presidente do Sindserv (sindicato dos servidores municipais) Guarujá