PUBLICADO EM 02 de fev de 2022
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A Escola Cívico-Cidadã

Quanto menos se conhece ou se tem compromisso com a Educação, mais esdrúxulos e bizarros são os diagnósticos e soluções apontadas pelos infames. É como se o dito popular “quanto mais rezo, mais assombração me aparece” ganhasse vida e forma nas personalidades públicas ou nos sujeitos anônimos que vociferam todo tipo de impropérios intelectuais e pedagógicos, ostentando conhecimentos e autoridade dignas de um ‘aspone’.

Não deixa de ser uma confluência dos malditos ‘ismos’ que proliferam no seio da sociedade: o fundamentalismo, o obscurantismo, o negacionismo. Já tivemos a ridícula – mas não menos perigosa – Escola Sem Partido, duramente derrotada graças à afirmação política e constitucional dos princípios da Democracia, pluralidade e liberdade.

Também foram rechaçadas as propostas histéricas que denunciavam a existência de uma “ideologia de gênero” no interior das escolas e aquelas que preconizavam a “educação domiciliar” como meio para livrar as pobres criancinhas da manipulação e doutrinação esquerdistas (sic)!

Sei que é chover no molhado, mas reparemos: num caso se defendia o direito a que as outras pessoas não tivessem direitos, tampouco respeito ou dignidade; no outro, a suposta suficiência em educar os filhos desde o próprio lar caiu por terra com a suspensão das aulas presencias em decorrência da pandemia e do necessário fechamento físico das escolas.

Entretanto, o mote desse texto é outro: a proliferação das Escolas Cívico-Militares, fartamente financiadas e divulgadas, representa um grave ataque e retrocesso à Educação, à Gestão Democrática, à Profissionalização do Trabalho Educativo e à Cidadania. Mais do que uma peça de propaganda ou instrumento de controle, vigilância e doutrinação baseados na repressão e no medo, tais iniciativas rompem com a lógica da formação e profissionalização da Educação e seus agentes educadores.

Pedagogia é ciência social e humana por excelência, se vale de estudos estatísticos para fundamentar suas perspectivas e diretrizes, se conecta a projetos de desenvolvimento econômico e tecnológico, envolve a consolidação dos avanços científicos e civilizatórios mais generosos, promissores e justos.
Transformar escolas em versões miniaturizadas de empresas (ideário neoliberal), prisões (repertório punitivo) ou quarteis (visão militaresca) ofende a inteligência coletiva e destroça o valor da profissão educador e da própria ciência pedagógica – com suas didáticas e metodologias amplamente discutidas e experimentadas.

Além de servir como verdadeiro cabide de empregos – a “mamata” tão comum no discurso do inominável presidente – há uma série de distorções a serem denunciadas e combatidas. Uma delas é a contradição do pensamento conservador que diz que “a educação vem de casa”, o que faz supor que crianças e adolescentes estão prontos e plenos e a exigência de esses mesmos sujeitos sejam postos a ferros para aprender “disciplina e respeito”!

Outra vaga no argumento “militarista” é acreditar que o simples contato com conteúdos e procedimentos que evoquem o “amor à Pátria”, “o respeito aos pavilhões nacionais”, o “conhecimento da letra do hino” ou a “obediência às normas e leis” mudará substancialmente a percepção dos educandos. Afirmamos, sem medo de errar, que Civismo e Cidadania são mentalidade e atitude conscientes, resultado da condição real em que Democracia, Direitos e Deveres Humanos, Liberdade, Justiça e Inclusão se fazem presentes concretamente na vida dos indivíduos, grupos e comunidades.

Por fim, “the last but not the least”, as ECMs erram feio ao sugerir uma pretensa superioridade da vida e prática militar sobre a civil, dado que isso não tem lastro algum fora da vontade, do subjetivismo e da narrativa. Aliás, pela origem histórica “civismo” e “cidadania” não se opõem, se completam e se fortalecem na medida em que ambos são tratados de modo verdadeiro, não pela aparência e superficialidade das situações.

Defendemos a Escola que contemple e acolha a Democracia, a participação, a cidadania plena, o senso crítico, a autonomia, o protagonismo, o empoderamento, a inclusão, o comprometimento com as causas da Justiça, Igualdade e Bem-estar. Enfim, “a nossa escola não tem personagem, a nossa escola tem gente de verdade”, ela é sim cívica, ela é também cidadã.

Alex Saratt é Professor das redes públicas municipal e estadual em Taquara (RS), 1° vice-presidente estadual do Cpers, Secretário de Comunicação da CTB RS e Secretário Adjunto da CNTE

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  • Paulo leonel

    No caso de Taquara,mesmo tendo grande admiração pela pessoa da prefeita,penso que está sendo ingênua e tentando agradar ao vice prefeito.Sou próximo de sua familia e gostaria que ela mudasse de opinião para que eu não precise mudar minha opinião em relação á ela.

  • Cacau Nicolau

    Parabéns pelo texto tão potente, o mesmo contribuiu muito nas minhas discussões dentro da escola. Jogou luz na cara dos conservadores.

  • André Beck

    Parabéns… excelente reflexão. Observações pertinentes no sentido de trazer luz para uma discussão que ilumine as trevas nas quais se encontra a educação em nosso país. É preciso clareza a respeito dos reais motivos da criação das Escolas Cívico Militares.

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