Teve início neste domingo (30) a Caravana em defesa do Rio Tocantins, que reúne lideranças sindicais e de movimentos sociais, que tem como objetivo visitar diversas comunidades ribeirinhas no interior do Pará que serão duramente impactadas caso o projeto de implementação da hidrovia Araguaia-Tocantins, na região, seja concretizado. Atualmente, o projeto está sob análise do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e sob pressão do governo de Jair Bolsonaro (PL) para sair do papel.
O governo quer que a licença ambiental provisória para a realização da obra seja aprovada em março deste ano para dinamizar o escoamento de produção de produtos como a soja até o porto de Barcarena e como porta de entrada para cargas que venham do exterior e, em especial, para o transporte dos minérios a partir das multiancionais na cidade
Isso, sem se importar com as populações nativas. Portanto, a caravana é um ato de resistência e luta para barrar o projeto . Contariando leis que regulam obras deste porte, as comunidades não foram consultadas e sequer ouvidas para que haja uma avaliação sobre os prejuizos que ocorrerão.
Ao longo da jornada, que percorre rio, diversos municipios estão sendo visitados (veja programação abaixo). O primeiro deles foi a cidade de Barcarena, região metropolitana de Belém. Na cidade, segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) do estado do Pará, cinco empresas mineradoras multinacionais dominam a atividade econômica e também estão diretamente interessadas na hidrovia para baratear custos.
No encontro com moradores da comunidade Vila Nova, os relatos sobre a degradação social e ambiental na região reforçaram a necessidade de mobilização contra a exploração econômica predatória dessas empresas. Foram lembrados fatos importantes para exemplificar o drama vivido pela população local.
Um deles foi a recente explosão na Imerys que espalhou uma fumaça tóxica pela cidade durante dias e outro, um náufrágio de um navio que matou cerca de cinco mil cabeças de gado, cujos cadáveres se espalharam pelas margens do rio.
‘As empresas vêm explorar nossos recursos e além de contaminar o meio ambiente, prometem empregos, investimentos em estrutura, em educação mas nada fazem. E o que é pior, com conivência do poder público e isenção de impostos’, diz Carmen Foro, Secretária-Geral da CUT.
Ação e reação
Carmen reforça que “escutar as pessoas é e saber delas o que veem enfrentando e o que vão enfrentar se houver a hidrovia, é fundamental para defender a população”. Ela afirma que não há nada que possa ser oferecido pelas empresas ou pelo governo que compense o estrago que essas obras e empresas provocam nas vidas das pessoas.
“Elas prometem o que chamam de compensação mas não cumprem e, na verdade, o que queremos – e lutamos – não é por nenhuma compensação e sim para que essas populações tenham seus direitos à vida garantidos”, diz, se referindo aos impactos sofridos desde a construção da Hidrelétrica de Tucuruí e sobre o que pode acontecer com a construção da hidrovia.
Euci Ana, presidenta da CUT Pará, também considera que a caravana é um ato crucial para a a vida da popualção da região. Sobre o propósito da missão ela afirma que “o momento da escuta é algo fundamental para quem vive”.
Eudi também descreve a experiência da caravana. “Estudos e pesquisas sobre os impactos são importantes, mas a sabedoria e vivência diretamentedo local, nesses dias, têm sido destaque. As pessoas falam da realidade, o que estão sentindo. Não é algo fora do comum, é sobre a vida real deles, ela diz.
Jornada
O segundo ponto de parada foi a Comunidade Rainha da Paz, pertencente ao município de Igarapé-Miri, cidade natal de Carmen Foro. Antes de ouvir os relatos dos moradores e moradoras da cidade, o presidente deo Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário (STTR), Erivelto dos Santos Miranda, lamentou a possiblidade de a hidrovia ser implmentada.
“É triste saber que o rio que nos sustenta será destruído. Chegamos ao momento de nos unirmos para proteger o rio. O sentido da nossa luta é nenhum direito a menos do que defender o nosso rio.
Gonzalo Martinez, representante do Soldarity Center, entidade ligadda à central sindical dos Estados Unidos AFL-CIO afirmou que as multinacionais que estão no Brasil promovendo a devastação, se não responderem aqui, responderão em seus países de origem.
“As multinacionais chegam aqui no Brasil para explorar as riqueza e voltar aos seus países. A AFL-CIO tem uma mobiização internacional que fará com que eles respondam ao voltarem”, disse.
A secretaria de Direitos Humanos da CUT, Jandyra Uehara, também participa da caravana. Complementando a afirmação de Gonzalo, ela reforça que o problema é um problema não só da região mas do BRasil e do mundo. “Extraem nossos minérios e vendem para o exterior a preço de banana. A população da região que deveria ser beneficiada, ao contrário, tem seus direitos sociais desprezados” ela diz.
Secretário de Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio reforça que a natureza não pode ser tratada com mercadoria. “Já há paises como Argentina e Chile que alterarão leis e incluiram a natureza como sujeito de direito, ou seja, assim como nós, sociedade, o meio ambiente tem o direito de ser preservado”, ele diz.
Daniel ainda afirma que, ‘infelizmente, hoje, discutir a natureza é discutir a morte”, se referindo ao impactos sofridos pela população.
Dia 2
Nesta segunda-feira, a barca que transporta a caravana voltou a navegar e se dirigiu ao municipio de Limoeiro do Ajuru e Cametá.
Na comunidade Sata Maria, lideranças da comunidade expressaram o desgosto, o medo e a indignação em relação à obra pretendida pelo governo.
Uma delas, Lilian da Costa Mendes, afirma que há um pavor em relação aos eventos naturais que se desencadearam após a construçãio de Tucuruí. “Moro na beira do rio e quando chove, não consigo nem dormir, com medo que a água invada e minha família acorde no meio da noite debaixo d´água. Isso é por caus ada barragem. A água vem de uma vez. É assustador e, agora, se vier a hidrovia, Deus sabe o que pode acontecer”.
Líderes de pescadores contaram que até o ciclo natural de reprodução dos peixes foi alterado causa um um descompasso com o chamado período defeso, em que os pescadores não podem pescar e recebem um benbeficio como forma de sustento. “Quando acaba o período defeso, os peixes ainda são alevinos (filhotes) e diminui a produção. Se vier a hidrovia, não haverá mais peixes por causa da dragagem. Não teremos mais produção. E dependemos dela para poder recer o seguro”, disse Paulino, pescador profissional.
Yuri Paulino, presidente do Movimento Atingidos por Barragens (MAB) afirma que já várias aspectos a serem questionados. Um deles é: “para que e para quem se constroi hidrelétrica e hidrovia”. E esclarece que não é para os pescadores, para os agricultores familiares e povos ribeirinhos. A eneregia elétrica por exemplo só veio após muita luta em 1998, dois anos após a construção da barragem de Tucurui. A pesca que já foi afetada pela hidrelétrica, tende a desaparecer com a hidrovia.
Yuri ainda afirma que a promessa de compensação pelos impactos nada mais é do que uma chantagem feita com direitos já existentes e que deveria ser garantido à popialção como saúde e educação com a cosntrução de escolas e hospitais. Segundo o depoimento dos moradores da comunidade são as promessas que nunca saíra, do papel. em sua grande maioria .
No fim da tarde desta segunda-feira, a caravana chegou à comudiade de Mapuarái, distrito de Cametá para ouvir a voz dos moradores. De acordo com o Padre Paulo Joanil da Silva, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e assessor regional das Comunidades Eclesiais de Base, não há um censo oficial para calcular o numero de impactados, mas a estimativa é de que entre aqueles que serão impactados direta ou indiratemente, o número chegue a cerca de 800 mil pessoas.
Nos próximos dias a caravana que começou em Barcarena e já passou por Abaetetuba, Igarapé Miri e Limoeiro do Ajuru visitará os municipios de Mocajuba e Baião, nesta terça. Depois, a partir de quarta-feira, prossegue por Tucuruí, Nova Ipixuna e Marabá.
A mobilização em defesa do Rio Tocantins é a CUT enetidades, na base, em ação, fazendo luta e defendendo os trabalhadores, diz Carmen Foro. A caravana é uma corealização da CUT, CUT-Pará, Fetagri-Pará, Diocese de Cametá, Conseselho Pastoral dos Pescadores, Levante Popular da Juventude, Sintepp e organizações de quilomboloas da região, com apoio da Universidade Federal do Pará (UFPA)do MAB e Soldarity Center/AFL-CIO.
Fonte: Portal CUT