O grande empresariado tem ganho dinheiro como nunca, sejam os banqueiros, os agroexportadores, os comerciantes do atacado e tutti quanti.
Enquanto isto os pequenos negócios passam por dificuldades decorrentes dos juros altos, créditos caros e da falta de compradores acossados pela carestia.
Um setor estratégico como o industrial tem sido massacrado sem que suas lideranças resistam a isso, sofrendo também as consequências do desarranjo das cadeias produtivas.
Nesta situação, como era de se esperar, todos eles querem diminuir ainda mais os salários de seus empregados arrochando-os nas negociações coletivas ou nas contratações. Choram lágrimas de crocodilo sobre o desemprego e a informalidade, mas apoiam-se neles para seus objetivos imediatos e egoístas.
Hoje, mesmo levando-se em conta a dissociação entre as lideranças empresariais e as lideranças sindicais do patronato, todos procuram dançar a música do salve-se quem puder, sem preocupações outras que não sejam a superexploração dos trabalhadores.
Em relação a medidas legislativas e administrativas há três movimentos com três motivações. Quase unanimemente todos querem a desoneração da folha de pagamento, privilégio de 17 setores e de inveja para os demais. Alguns se engalfinham sobre as consequências do decreto ministerial 10.854 no ramo da alimentação para os trabalhadores. E os mais vinculados à burocracia sindical e ao ministério do Trabalho querem ressuscitar a deforma trabalhista já derrotada no Senado.
As direções sindicais concordam com a desoneração pelo prazo de dois anos e com controle dos resultados sobre o emprego, já se pronunciaram sobre as múltiplas particularidades desregulamentatórias do decreto ministerial, mas ainda não sobre a forte disputa entre os setores empresariais ligados a alimentação (com efeitos sobre os benefícios aos trabalhadores ainda não esclarecidos) e rejeitam fortemente a nova tentativa de deforma trabalhista, balão de ensaio oportunista e desorientador.
Estas posições seriam fortalecidas se, sempre, reafirmassem a necessidade de auxílio emergencial e de emprego, de combate aos juros altos e à inflação e de respeito aos direitos sindicais dos trabalhadores.
João Guilherme Vargas Netto é membro do corpo técnico do Diap e consultor sindical de diversas entidades de trabalhadores em São Paulo