Fazia frio na noite de domingo (17) em Atibaia, interior paulista. Ainda assim, entregadores de aplicativo se reuniam na frente do McDonalds da cidade.
Penduradas na placa, faixas anunciavam a greve por melhores condições de trabalho, iniciada na sexta-feira (15). Em cima das bags no chão, doações de alimentos para garantir o sustento nos dias brecados. Os entregadores afirmam que seguirão sem rodar até que tenham suas reivindicações atendidas.
Entre as demandas da greve estão o aumento das promoções e da taxa mínima por coleta (que está em R$ 5,31), o fim de duas ou mais entregas por corrida e também o fim das suspensões de conta feitas sem justificativa.
Atibaia é a sétima cidade de uma onda de breques que vêm acontecendo no mês de outubro e, no momento, é a única que mantém a paralisação. Com períodos variados de duração – de um a oito dias – as greves de entregadores contra os apps de delivery aconteceram em Paulínia (SP), Jundiaí (SP), Maceió (AL), São Carlos (SP), Bauru (SP) e Niterói (RJ).
Apesar do ineditismo das mobilizações, que se espalharam por diferentes cidades e tornaram inoperantes as entregas de comida por vários dias seguidos, não houve ainda qualquer contato por parte das empresas de apps com os grevistas.
Entre elas está o iFood, a maior empresa do ramo de entregas do país e, por isso, alvo principal dos breques; que também atingem Uber Eats, Rappi, Box Delivery e James Delivery.
“Estão vendo tudo parado e querendo nos vencer pelo cansaço, porque têm um poder aquisitivo maior”, avalia João Marcos*, grevista de Atibaia. “Mas a gente vai conseguir porque não vamos ceder até o iFood se manifestar”, salienta.
Sem dizer se pretende fazer contato com os grevistas, o iFood informou ao Brasil de Fato que “respeita o direito constitucional e democrático de realização de manifestações” e que a empresa “está permanentemente atenta a todo o seu ecossistema”.
A onda de breques de vários dias
“A luta não começou aqui, começou lá em São José”, afirmou em vídeo um dos entregadores de Jundiaí, no sexto e último dia da greve na cidade. Ele se refere ao breque de seis dias que aconteceu em setembro em São José dos Campos (SP), o de maior duração até então, e que inspirou a onda grevista de outubro.
“Pegamos o bastão. Hoje está em Jundiaí, e iremos passar o bastão”, continua: “Demos um soco bem forte no estômago do iFood. Agora rapaziada, vocês dão um no rosto, e depois numa nacional iremos derrubar esse gigante que quer derrubar nossa categoria de motoboy”.
“Essa onda está acontecendo porque os motoqueiros começaram a abrir o olho para a desigualdade que tem”, analisa João Marcos.
Em frente ao bloqueio do McDonalds em Atibaia, o entregador Jorge Luís* gesticulava, com a mão enfaixada por conta de um acidente de moto durante o serviço, enquanto decrevia a importância das greves se espalharem pelos municípios.
“O que a gente está fazendo não é para mim ou para o próximo, é em busca de melhoria para todos”, explica Jorge. “Então queremos que todos os municípios onde estão passando pela mesma situação que nós entregadores passamos, se juntem a nós. Dá um breque na sua cidade, chama os motoqueiros, conversa”, convoca.
“Se a gente conseguir brecar em outras cidades a gente vai conseguir causar um impacto e mostrar para o iFood que as coisas não são do jeito deles, que a gente também tem que ser valorizado”, expõe Luciano Mota*.
“No auge da pandemia, na linha de frente – no sol, na chuva, no feriado, largando a família – era quem? Nós, os motoqueiros”, diz Luan Borges*, que trabalha como entregador do iFood há três anos. “O que a gente está fazendo é só por um direito nosso, a reivindicação de uma melhoria”, aponta.
“Então chegou a hora. Que a gente já está cansado mesmo”, afirma Luan: “Não vamos nos render”.
* Os nomes foram alterados para preservar as fontes.
Fonte: Brasil de Fato