Quais surpresas nos trará a primavera? Do jeito que as coisas estão será uma mistura de um gélido inverno, um tórrido verão e um desolado outono.
Para os trabalhadores a situação é desesperadora e, em certos aspectos, desmoralizante. O desemprego desorganiza e amedronta, o salário despenca e os direitos são pisoteados; sopra um vento mau contra a classe.
Para o movimento sindical, que representa o núcleo duro do mundo do trabalho, as dificuldades são terríveis.
Há uma contradição entre o conjunto das tarefas a serem enfrentadas – tarefas que dizem respeito à toda mala vita dos trabalhadores – e a capacidade de ação dos sindicatos, limitada ainda aos representados formais e ainda mais pelo garroteamento sucessivo dela.
A luta de classes torna-se feroz, não porque se manifeste polarizada e conflitiva, mas porque os trabalhadores sofrem danos cruéis, não há como contê-los e o mal estar fermenta. Há uma ilusória calmaria na superfície que desorienta ainda mais os ativistas.
E, no entanto, é preciso lutar “atento às perseguições do porto”, como cantou o poeta Capinam, que hoje luta pela vida e contra o plano de saúde privado que o atende.
As tarefas do cotidiano precisam e devem ser enfrentadas sem grandiloquência estéril e movimentismo inócuo, com espírito unitário de resistência. Cada dia conta e a soma, se bem feita, produzirá resultados satisfatórios com o restabelecimento do verdadeiro pacto social de respeito aos trabalhadores e ao movimento sindical.
João Guilherme Vargas Netto é membro do corpo técnico do Diap e consultor sindical de diversas entidades de trabalhadores em São Paulo