Artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo no dia 1º de setembro de 2021
Em sua coluna semanal nesta Folha, a professora Maria Hermínia Tavares criticou minhas ideias sobre a centralidade da questão nacional, por ela denominadas de “nacionalismo embolorado”. Maria Hermínia se referia a uma entrevista sobre o lançamento de minha pré-candidatura à Presidência da República na qual eu pregava a união do país em torno da retomada do desenvolvimento, do combate às desigualdades e da valorização da democracia.
Na entrevista eu sustentava ainda que o Brasil vive um processo de profunda desorientação, marcado pelo confronto entre a agenda identitária das correntes progressistas e a guerra cultural, que constitui o centro da agenda do núcleo ideológico do governo. O interesse nacional e as alianças heterogêneas para alcançá-lo naufragam nas águas revoltas desse confronto.
A ilustre professora admite que o meu “nacionalismo estreito” tem “curso livre entre políticos de diferentes partidos, para não falar nas três Armas” —no que deve ter confundido as armas do Exército com as Forças Armadas, que são três: Marinha, Exército e Aeronáutica.
É verdade que o nacionalismo guiou a trajetória de importantes líderes políticos da história do Brasil, a começar dos próceres de nossa Independência, o patriarca José Bonifácio de Andrada e Silva e o imperador Dom Pedro 1º. Nacionalistas foram ainda Dom Pedro 2º, Caxias, Tamandaré, Deodoro, Floriano Peixoto, Getúlio Vargas, Góes Monteiro, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Ernesto Geisel, João Figueiredo e Leonel Brizola. E, nas três Forças apontadas por Maria Hermínia, embora não tenha sido e nem seja uma unanimidade, o nacionalismo sempre pairou como uma ideia profundamente enraizada.
A história do mundo nos últimos 200 anos foi uma disputa entre dois tipos de nacionalismo: o nacionalismo dominador das nações fortes, coloniais e imperiais, em confronto com o nacionalismo defensivo das nações emergentes em busca de afirmação nacional.
Os hinos, as bandeiras, os brasões de armas e outros símbolos nacionais constituem a expressão iconográfica e estética dessa época histórica. As manchetes dos diários e dos telejornais contemporâneos estão repletas de proclamações das reivindicações e ambições nacionais de norte-americanos, chineses, russos, israelenses e palestinos, apesar dos discursos globalistas no Fórum de Davos e nas reuniões da ONU.
Aldo Rebelo é ex-ministro, político filiado ao Partido Solidariedade