PUBLICADO EM 02 de jul de 2021
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O que está em questão?

Sobre a questão do Governador Leite ter assumido publicamente sua orientação sexual é preciso observar um conjunto de situações.
Que foi uma declaração política e com provável viés eleitoral não restam dúvidas.

Também não supera a visão liberal de liberdade e direito do indivíduo, parece desconectada da luta social e societária para garantir plenos direitos – subjetivos e práticos – à população LGBT (e poderíamos estender essa questão às mulheres, negros, indígenas e outras “minorias”).

Aliás, essa é a diferença entre o identitarismo puro e simples e as lutas por emancipação, igualdade, plenos direitos, legislações e políticas públicas que permitam a construção de uma nova visão e relação entre as pessoas em sociedade.

Acho válido que ele, Leite, tenha assumido sua condição em um momento que as pautas ditas comportamentais provocam furor e disputa no meio social. Tardiamente, se descola aos poucos da faceta mais repulsiva do fascismo. E indica que ele e seu partido passam a considerar com seriedade o afastamento do Latrocida, o que de fato nos interessa.

Aliás, o PSDB paulistano anunciou ontem adesão aos atos Fora Bolsonaro.

É o efeito Lula: se Bolsonaro permanecer, a tendência é a polarização acentuada e uma eleição plebiscitária. Se há esperança de uma terceira via, os tucanos, demos e outros precisam acelerar o passo para não assistirem o cortejo das arquibancadas.

Importante: nesse momento nos interessa e nos ajuda essa postura. Sinal de que somos nós que arrastamos as outras forças (pelo menos nas ruas e nas redes, na mídia, no Judiciário e no Congresso a situação é inversa).

Por fim: mesmo com a ruptura (que terá implicações também na sucessão estadual), o legado tucano e seus efeitos deletérios para a população não desaparecerão. Não tenhamos medo demasiado, pois no debate e no contraste entre projetos e feitos, as forças de Esquerda, democráticas e populares tem ampla vantagem e saberão dar o bom combate aos neoliberais.

De momento, todos contra Bolsonaro. Vencida essa etapa (coisa que não está dada e não será nada fácil e simples), miremos nossas baterias no outro adversário, que vem sendo corresponsável pela destruição de direitos, do Estado e suas políticas públicas e foi cúmplice desse desgoverno até há pouco.

O que está em questão é isso: escolher os inimigos, as batalhas e o terreno de luta. Agora é hora de #ForaBolsonaro.

Ao Governador, a quem saúdo pela atitude de se autoafirmar, mantemos nossa férrea oposição política, nossas concepções são diametralmente contrárias e disputaremos palmo a palmo cada espaço e autoridade quanto aos caminhos justos para vencer a crise, o desemprego, a inflação, a pandemia.

Acrescento ainda duas observações:

A atitude de Leite revela exatamente aquilo que muitos definem como “identitarismo”: limita e circunda o debate ao caráter específico, não o coloca no conjunto maior de relações da sociedade, tampouco conecta com a questão da luta de classes. Enquanto pauta democrático-normativa é salutar, mas não avança além disso.

O fato é que muitas vezes as pautas ditas identitárias são apropriadas pelo viés liberal, isso é um fato real, o que demanda fortalecer as organizações populares que tratam dos respectivos temas. O PCdoB, por exemplo, tem a UBM, a UNEGRO, a UJS, a UNA LGBT justamente para discutir e entrelaçar classe, gênero, raça, orientação sexual, senão vira miscelânea e ecletismo teórico, ideológico e político. Até mesmo a questão classista pode ser objeto de captura por parte da burguesia (vide discursos reformistas, de responsabilidade social, etc).

Alex Saratt é professor de História nas redes públicas municipal e estadual em Taquara/RS, vice-diretor do 32º núcleo do Cpers-Sindicato

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