Muitas vezes desinformados, esperam os portões abrirem para tentar algum tipo de documentação que lhes permita trabalhar no Brasil. O sol equatorial às 8h já está impiedoso, e crianças começam a chorar no colo de suas mães.
Em 2016, no início da onda migratória de venezuelanos para o Brasil em consequência da crise sociopolítica em seu país natal, homens em idade produtiva eram maioria. Hoje, famílias inteiras aportam com uma ou duas malas e poucas perspectivas.
No dia 18 de janeiro, Lilian Ramos, 31, era uma das primeiras na fila da PF. Estava com a filha em um carrinho de bebê, o marido e mais quatro parentes. De Cumaná, no norte da Venezuela, a Boa Vista, demoraram três dias, dois dos quais dormindo na estrada já em solo brasileiro enquanto esperavam carona.
Ramos chegara três meses antes. Trabalhando como babá, juntou dinheiro para trazer a família, que por ora dorme na casa da patroa dela. Mas a estadia é temporária, e ela não sabe para onde se mudará. “Não tenho como pagar uma casa.”
Na mesma fila, dezenas de pessoas não tiveram hospedagem para o primeiro dia, carona na estrada nem trabalho. A consequência é visível em esquinas, praças, calçadas de lojas, bancos e supermercados de Boa Vista.
Cerca de 40 mil venezuelanos estão na capital de Roraima, nas contas da prefeitura -mais de 10% da população da cidade, de 330 mil habitantes. Sem assistência, não conseguem custear passagens para outros Estados com maior oferta de trabalho.
Os sistemas municipais de saúde e educação estão exauridos, os dois abrigos estaduais, superlotados há meses, e o fluxo só aumenta.
Em 2017, 600 crianças foram matriculadas em escolas municipais, 32 mil venezuelanos foram atendidos em unidades básicas de saúde e 277 famílias venezuelanas receberam Bolsa Família.
Fonte: Folha de S. Paulo