PUBLICADO EM 27 de jan de 2018
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Turma do Matoso, a origem da Jovem Guarda

Naquela esquina, em meio a explosão do rock and roll, Roberto, Tim Maia, Jorge Ben e Erasmo Carlos, entre outros, trocavam informações, faziam planos para o futuro.

Por Fernando Rosa

Hadock Lobo esquina com Matoso, via Google Maps

Uma esquina no Rio de Janeiro pode ser considerada o marco zero do rock brasileiro. “Hadock Lobo esquina com Matoso, foi lá que toda a confusão começou”, cantou Tim Maia em música com o nome das duas ruas, onde descreve os primeiros passos do rock nacional. Na esquina dessas ruas nasceu a turma, conhecida com a ‘Turma do Matoso’, cujos principais integrantes revolucionaram a música brasileira na década seguinte. Hoje, apenas uma esquina, sem qualquer destaque, o encontro daquelas duas ruas é uma espécie de “Memphis” do rock nacional.

“Em 1957, levado por um colega da mesma escola, Arlênio Lívio, Roberto Carlos passou a freqüentar a turma que se encontrava na Rua do Matoso, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro”, conta Okky de Souza, na biografia oficial de Roberto Carlos. “Roberto precisava da letra da música Hound Dog e alguém lembrou que um outro componente da turma colecionava tudo sobre Elvis Presley: Erasmo (Carlos) Esteves”, também lembra o jornalista, registrando o histórico encontro da dupla responsável pelos maiores sucessos do rock brasileiro dos anos sessenta.

The Sputniks com Tim Maia (esquerda) e Roberto Carlos (à direita),

Naquela esquina, em meio a explosão do rock and roll, Roberto, Tim Maia, Jorge Ben e Erasmo Carlos, entre outros, trocavam informações, faziam planos para o futuro. Dali, surgiram, alguns grupos emblemáticos para a origem da Jovem Guarda, entre eles The Snakes, The Sputniks e Os Terríveis, escola para todos eles, naquela segunda metade dos anos cinqüenta – apenas o primeiro deixou registros gravados.

The Sputniks reunia, além de Roberto Carlos, Tim Maia, Arlênio Lívio e Wellington. Os Terríveis era formado por Roberto (guitarra), Carlos Imperial (piano e acordeon), Paulo Silvino (vocais; o futuro humorista), Edson Moraes (guitarra), Amilcar (guitarra havaiana), Vitor Sérgio (guitarra) e João Maria (bateria).

Inicialmente, The Snakes acompanhou Roberto Carlos, quando o futuro “rei” da Jovem Guarda participava do programa Clube do Rock, de Carlos Imperial. “Eu nunca participei dos Sputniks. Os Sputniks eram um conjunto com Arlênio Lívio, Wellington e Tim Maia. Eu nem cantava nessa época, sequer vi um show dos Sputniks” conta Erasmo Carlos em entrevista em seu site oficial.

“Na época – prossegue Erasmo Carlos no mesmo depoimento – soube que eles tinham brigado: o Tim Maia foi cantar sozinho, o Roberto foi cantar sozinho e o Arlênio, que adorava esse negócio de conjunto vocal, me convidou para fazer parte dos Snakes, um grupo vocal. E montamos os Snakes: eu, Arlênio, o Édson Trindade e o Zé Roberto, o Chininha”.

”Aí começamos a ensaiar nossas músicas e fomos fazer vocais para o Roberto Carlos, que já cantava sozinho – era o “Elvis Presley brasileiro” (o nome que o Carlos Imperial deu), e para o Tim Maia, que era o “Little Richard brasileiro”. A gente participava de shows do Clube do Rock. Os Snakes faziam a primeira entrada, cantando Del Vikings, depois acompanhávamos o Tim, e depois Roberto Carlos. Então, eu nunca participei dos Sputniks e o Roberto Carlos nunca participou dos Snakes. Ele cantava acompanhado dos Snakes, era diferente”, esclarece Erasmo.

Por volta de 1959, com a primeira derrocada do rock and roll, os integrantes da Turma do Matoso procuraram outros caminhos para as suas carreiras. Tim Maia, então com 17 anos, mudou-se para os Estados Unidos, de onde retornou anos depois, para transformar-se no maior soul man e um dos mais importantes compositores brasileiros. Jorge Ben, que tinha o apelido de Babulina, por conta da música Bop a Lena, de Ronnie Self, enveredou pelos caminhos do samba. Já a dupla Roberto Carlos & Erasmo Carlos não deixou por menos e inventou a Jovem Guarda, que rivalizou com os Beatles, nos anos sessenta.

Vídeo com Tim Maia cantando o tema da Turma do Matoso

Hadock Lobo Esquina Com Matoso
(Tim Maia)

Hadock Lobo, esquina com Matoso
Foi lá que toda confusão começou
Erasmo cara esperto
Juntou com Roberto
Fizeram coisas bacanas
São lá da esquina
Hadock Lobo … (refrão)

Arlênio pega e pelota
E passa pro China
Trindade pisa na bola
Mas é bom menino
(refrão)

A turma estava formada
Com lindas meninas
E o Jorge Ben camarada
Era o Babulino
(refrão)

As festas maravilhosas
Que todos curtiam
O som, o papo maneiro
Iam a noite inteira

Fernando Rosa é jornalista, produtor cultura, editor do portal Senhor F. e colaborador do site Rádio Peão Brasil.

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  • Raimundo Leunes Rezende

    Uma pérola essa reportagem, narra a história de um seleto grupo de artistas do que temos de melhor na riquíssima música brasileira. Talvez a mais diversa de bela música do mundo. Passando da música popular brega ao clássico, do sertanejo caipira ao rock n rol, do carimbo ao choro. Uma infinidade de gêneros musicais oriundos da nossa forma de ser, com a rica diversidade cultural do Brasil.

  • djair

    meu pai, ja falecido, viveu isso tudo ai com eles nos primordios, morava na rua do matoso com a familia. era conhecido como hermes ” o Carobinha”.

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