A reivindicação de vacina para combater a pandemia e a mortandade generalizada é apenas a expressão mais recente e atualizada de uma luta que os setores progressistas iniciaram tão logo o coronavírus e a COVID foram identificados.
A reação imediata de Partidos de Esquerda, Centrais Sindicais e Movimentos Sociais foi a de exigir junto às instâncias de poder, nomeadamente o Executivo, um conjunto de medidas e ações que tratassem do grave problema que, trágica e criminosamente, confirmou nossos piores temores e alertas.
Desde a observação e cumprimento das orientações epidemiológicas e sanitárias emanadas pela OMS, passando por políticas e recursos que salvaguardassem o emprego, a renda e o funcionamento da economia em situação de crise, até a intransigente defesa da vida, a verdade é que não fosse a campanha encabeçada pela Esquerda, o caos seria ainda maior.
A responsabilidade do Governo Bolsonaro e daquelas autoridades e lideranças que lhes dão apoio ao seu discurso e prática genocida é fato inegável e a eles combatemos não só com a crítica e denúncia, mas com a mobilização possível e a proposição de medidas concretas, objetivas e realizáveis, mantendo a saúde, o bem estar e a vida como fundamento da nossa linha política.
No momento atual, dentro do conjunto variado e complexo de condições criadas pela omissão, negligência e negacionismo, algumas questões ganham centralidade e prioridade. Não é à toa que a manutenção do auxílio emergencial, endurecimento das regras de isolamento, investimento em saúde, fortalecimento do SUS e um plano nacional de vacinação estão na ordem do dia.
Sobre os demais itens, já discutidos amplamente, não irei comentar. Me deterei no tema da vacina e da respectiva vacinação. Que fique registrado que desde o princípio a reivindicação é pela vacinação urgente, imediata e em massa de toda a população. Fôssemos governados por alguém com caráter, inteligência e humanidade, certamente tais providências estariam avançadas, mas desgraçadamente não é a nossa sorte como brasileiros.
Definitivamente, a vacinação é, dentre todas as coisas, a mais importante para vencermos o vírus (e os vermes). Porém, o quadro realístico é funesto e precisamos organizar a distribuição de modo a torná-la mais eficiente. Aqui aparece a discussão sobre a inclusão ou não dos trabalhadores em educação no chamado grupo prioritário e sobre essa questão delicada é preciso ter ciência.
Longe de se considerar um privilégio, regalia ou egoísmo corporativista, a demanda obedece razões práticas, seja pela necessidade de um calendário de vacinação que tome critérios (como acontece no momento considerando-se, por exemplo, idosos e trabalhadores da saúde) até o reconhecimento da insalubridade de ambientes escolares, vasta população envolvida direta e indiretamente (só de alunos são mais de 47 milhões de pessoas), exposição aguda de educadores e educandos ao contato social e contágio, alta média de idade e comorbidades na referida categoria profissional e urgência na reabertura das escolas para atender os estudantes e auxiliar as famílias.
Embora não pareça, o fazer pedagógico é atividade que coloca os envolvidos num tipo e grau de contato extremo, os exemplos de reabertura de escolas foram comprovadamente desastrosos do ponto de vista da propagação da doença e seu contrário – o fechamento de escolas – produziu bons resultados, embora prejuízos severos para educadores e educandos no que tange ao trabalho ou à aprendizagem.
As Centrais Sindicais corretamente têm apelado e pressionado pela vacina para todos e seus sindicatos afiliados são solidários nessa luta. Aos sindicatos por categoria é óbvio que se espere a combinação da bandeira geral com a exigência específica, afinal reconhecemos ou não os riscos da atividade educacional e a vacinação não traria um impacto na mitigação do contágio (no ambiente escolar e fora dele, inclusive no meio familiar)?
Lógico que não existem soluções simples para problemas complexos. Mesmo na escola, a imunização do corpo profissional exigiria testagem, higienização e sanitização, EPIs, infraestrutura adequada, contratação de funcionários, revezamento de turmas e a aceleração/massificação da campanha de vacinação da população.
Desconhecer as particularidades da profissão e da categoria e a função que cabe ao sindicato, além de ser um equívoco, denota ignorância sobre a mesma. Ademais, pelo longo histórico de lutas em favor do Brasil, da classe trabalhadora e da Educação, usar o mote do calendário de vacinação e do grupo de risco para proselitismo eleitoreiro é fato recriminável.
Não cabem nesse momento falsas polêmicas e divisão. Continuamos firmes nas convicções, a começar pelo Fora Bolsonaro, questão essa que para alguns é de menor importância diante do afã de vencer a qualquer custo. Rejeitamos a demagogia e o pensamento binário e repudiamos o desprezo pela vida travestido de radicalidade oca.
#VacinaJá
#AulasSeRecuperamVidasNão
#AuxílioEmergencial
#DefesaDoSUS
#ForaBolsonaro
Alex Saratt é professor de História nas redes públicas municipal e estadual em Taquara/RS, vice-diretor do 32º núcleo do Cpers-Sindicato
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Zilá Regina Kolling
Excelente, como sempre. Pontuando tudo o que é essencial, tanto da perspectiva geral, como da específica. Parabéns!