Algumas poucas pessoas tem criticado a Programação do XII Seminário do Trabalho. Elas reconhecem que é uma excelente programação, mas criticam a falta de mulheres e negros na grade da programação.
Pela primeira vez, em 20 anos de Seminário do Trabalho, recebo críticas desta natureza. Considero isso sintomático da catástrofe brasileira. O neoliberalismo e o pós-modernismo fizeram um grande serviço no País nos últimos trinta anos. A academia não está fora da miséria espiritual do capital.
O fundamentalismo identitarista originou-se da episteme pós-modernista que historicamente fez a mesma operação ideológica do neoliberalismo: a dessubjetivação de classe. A categoria de classe social ou ainda a categoria de trabalho perde a sua centralidade ontogenética, sendo substituída por epistemologias subjetivistas, relativistas e particularistas. Tal percepção do mundo social “coloniza” a sociedade – principalmente a academia e inclusive editoras e partidos de esquerda – insuflado pelos aparelhos midiáticos liberais-burgueses que querem eliminar do horizonte mental das pessoas a sintaxe da classe social e a perspectiva do trabalho como crítica da economia política do capital.
Relações raciais são relações de CLASSE. Relações de gênero são relações de CLASSE. A única classe capaz de fazer a critica radical do mundo do capital é a CLASSE DO TRABALHO. Estes são os critérios que adoto para construir uma Programação de Evento. Está difícil encontrar intelectuais competentes para abordar o Mundo do Trabalho sem “derrapar” nas armadilhas epistemológicas pós-modernistas.
Não vou me alongar nesta explanação. Talvez o importante é reinterar (e salientar) um principio metodológico essencial: o que é FUNDAMENTAL- politico e ontologicamente – no MUNDO DO CAPITAL não é o sexo, a cor de pele, a opção sexual, etc, mas sim a CLASSE SOCIAL (que tem sexo, que tem cor, que tem opções sexuais, etc) – a CLASSE SOCIAL do Trabalho é o principio fundante e fundamental das nossas escolhas politicas,. Não é a toa que não ouvimos mais a palavra Trabalho ou Trabalhador ou Trabalhadora, mas sim Colaborador e Colaboradora, etc. Não é a toa que os recortes de classe perderam espaço na construção do objeto de investigação exacerbando-se recortes de gênero, étnico-raciais, etc – como se fossem suficientes para sustentar em si e para si, um objeto real de pesquisa.
Lamento informar: O capital venceu a luta ideológica que faz há mais de trinta anos contra o materialismo histórico dialético. Ele colonizaram inclusive a esquerda cuja maior parte dela está adormecida à sombra do liberalismo amigável (estilo Biden).
Vamos ao XII Seminário do Trabalho. Há 20 anos discutindo a Riqueza e a Miséria do Mundo do Trabalho.
Giovanni Alves, professor de sociologia da UNESP – Campus de Marília-SP