Ministro da Defesa, Raul Jungmann, diz que negociação interfere na soberania nacional
O presidente Michel Temer (MDB) disse que nem cogita a hipótese de autorizar que a empresa brasileira Embraer seja vendida para a norte-americana Boeing, respectivamente a terceira e a primeira maiores fabricantes de aeronaves do mundo. Apesar disso, concorda que haja uma espécie de acordo comercial entre elas.
“A participação estrangeira na Embraer é muito intensa, se nesta altura ampliasse a participação estrangeira, tanto melhor. Mas não há a menor cogitação de vendermos o controle para outra empresa”, afirmou o mandatário durante café da manhã com jornalistas no Palácio da Alvorada, em Brasília, ao qual o EL PAÍS não foi convidado. As declarações foram colhidas pela reportagem nos jornais brasileiros O Estado de S. Paulo, Valor Econômico e Folha de S. Paulo
A Embraer tem capital aberto. Atualmente, seu maior acionista individual é o fundo de investimento americano Brandes, que detém 15% da empresa. Na sequência aparecem o fundo britânico Mondrian (10,1%), o brasileiro BNDESpar (5,4%) e o americano Blackrock (5%). Os outros 64,5% são distribuídos entre acionistas minoritários que negociam nas bolsas de valores de São Paulo e Nova York. Em um comunicado conjunto, na quinta-feira, as empresas Boeing e Embraer confirmaram que estão negociando entre si, mas informaram que “não há garantias de que estas discussões resultarão em uma transação”.
Após o encontro desta manhã no Palácio da Alvorada, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, detalhou o posicionamento da gestão Michel Temer. “Nós não podemos negociar soberania e interesse nacional. No entendimento desse Governo, soberania é inegociável. Agora, todo o restante, que seja bom para a empresa, que ajude a melhorar a empresa, seja de quem for, ele é muito bem-vindo”.
Segundo o ministro, quando a Embraer foi privatizada, em 1994 no Governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), optou-se por manter a ação Golden share para garantir que a empresa mantivesse a produção de aeronaves que são consideradas essenciais para as Forças Armadas brasileira. Esse tipo de ação impede que decisões estratégicas da empresa sejam tomados sem um aval do governo federal. Jungmann citou diretamente os caças, os Supertucanos e o cargueiro que são produzidos pela Embraer especificamente para a União.
O ministro também afirmou que se o controle acionário fosse transferido para uma empresa estrangeira, o país correria o risco de ver essas produções serem suspensas e, consecutivamente. Ele acredita que não será necessário o Brasil usar o seu poder veto na transação porque o que houve até agora, em sua visão, foram apenas especulações em torno do assunto. Temer ressaltou também que o Palácio do Planalto não foi notificado oficialmente sobre o tema.
Fonte: El País