PUBLICADO EM 14 de fev de 2020
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Eduardo Dussek canta: ‘Brega Chique’; a vingança da doméstica; música

Sucesso na década de 1980, a música descreve o que ainda é a realidade de inúmeras empregadas domésticas. Os sinais de avanços que surgiram, como a PEC das domésticas, podem ter sido positivos, mas se perdem em uma situação onde o trabalho é cada vez mais desvalorizado. Com humor irônico Dussek expressa o microcosmos da luta de classes que, ao contrário da canção, não encontra justiça, ou “vingança”.

Em nossa sociedade, de mentalidade escravocrata, as domésticas, via de regra, só conhecem os luxos que suas patroas experimentam para limparem seus lixos. Não vão para Disney e não andam de avião.

Brega Chique
(Composição: Eduardo Dussek/1984)
Intérprete: Eduardo Dussek

Foi trabalhar
Recomendada pra dois gringos
Logo assim
Que chegou do interior
Era um casal
Tipo metido a granfino
Mas o salário
Era tipo, um horror…

A tal da madame, tinha mania
Esquisitona de bater
E baixava a porrada
Quando a coisa tava errada
Não queria nem saber…

Doméstica
Ela era
Doméstica
Sem carteira assinada
Só caía em cilada
Era empregada
Doméstica!…

Nunca notou
A quantidade de giletes
Não reparou
A mesa espelhada no salão
Não perguntou
O quê que era um papelote
Baixou “os home”
Ela entrou no camburão…

Na delegacia
Sua patroa americana ameaçou:
“Lembra que eu sou
Uma milionária,
Eu fungava, de gripada
Não seja otária, por favor”…

Doméstica!
Traficante disfarçada
De doméstica
Era manchete nos jornais
O casal lhe deu prá trás
Sujando brabo prá doméstica…

No presídio aprendeu
Com as companheiras
A ser dar bem
A descolar, como ninguém
Ficou famosa
No ambiente carcerário
Com a mulata
Que nasceu prá ser alguém…

Pois não é que a
Doméstica!
Conseguiu uma prisão, doméstica
Saiu por bom comportamento
Mas jurou nesse momento
Vingar a raça das domésticas…

Então alguém
Lhe aconselhou logo de cara
“Dá um passeio
Vê se arranja um barão”
Porque melhor
Que o interior ou que uma cela
É ter turista e faturar
No calçadão…

Até que um dia
Um Mercedinho prateado buzinou
Era um louro alemão
Que lhe abriu a porta do carro
E lhe tacou um bofetão…

Doméstica
Virou uma baronesa
Doméstica!
Mesmo com as taras do barão
Segurou a situação
Levando uma vida doméstica….

Realizada em sua mansão
Em Stuttgart
Ouvindo Mozart de Beethoven de montão
Com um pivete
Mulatinho pela casa
Que era herdeiro
De olho azul como o barão…

Precisou de uma babá
Botou um anúncio
Bilíngue no jornal
Seu mordomo abriu a porta
Uma loira meio brega
Uma yankee de quintal…

Doméstica
Era a americana, de doméstica
A nega deu uma gargalhada
Disse:
“Agora tô vingada
Tu vai ser minha
Doméstica”

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