PUBLICADO EM 31 de jan de 2020
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OEA promoverá audiência sobre violações à liberdade de expressão no Brasil

“O Brasil sempre conviveu com muitos casos de violação à liberdade de expressão, mas eram casos difusos. O que diferencia este histórico do momento presente é que, a partir do governo Bolsonaro, essas violações passaram a ser política de Estado”, explica Renata Mielli

Após solicitação por parte de entidades da sociedade civil brasileira, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA), anunciou que promoverá, em março, audiência temática para discutir a escalada de violações à liberdade de expressão no Brasil. O documento produzido pelas entidades que assinaram a solicitação compilou diversas denúncias de violações, evidenciando o caráter sistemático das práticas e um processo de “institucionalização” dos ataques à liberdade de expressão.

“O Brasil sempre conviveu com muitos casos de violação à liberdade de expressão, mas eram casos difusos. O que diferencia este histórico do momento presente é que, a partir do governo Bolsonaro, essas violações passaram a ser política de Estado”, explica Renata Mielli, coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).

“Vivemos uma institucionalização das violações aos direitos humanos e à liberdade de expressão. Muitos desses movimentos partem, inclusive, do próprio presidente da República quando ele usa seus canais de comunicação para perseguir comunicadores, quando adota medidas governamentais para privilegiar veículos simpáticos ao seu governo ou para calar meios que sejam críticos ao governo”, explica Mielli. “Esta audiência representa este momento que o Brasil vive: o de um Estado que pratica e estimula a violação da liberdade de expressão”.

De acordo com Olívia Bandeira, do Coletivo Intervozes, a realização de uma audiência sobre a situação da liberdade de expressão no Brasil mostra como os organismos internacionais de defesa dos direitos humanos estão preocupados com a situação do país. “Temos vivenciado muitos retrocessos nesta pauta, com o aumento  da violência contra comunicadores e jornalistas, ataques à liberdade de imprensa, restrições ao direito de acesso à informação, criminalização dos movimentos sociais e censuras à liberdade artística e cultural”, assinala. “Os limites à participação da sociedade nas decisões políticas no país agrava ainda mais este cenário”.

A sociedade civil brasileira tem mantido constante relação com organismos internacionais para informar e discutir a situação do país. O processo de solicitação de uma audiência não é fácil, pois concorre com pedidos do mundo inteiro. Por isso, a unidade das entidades na construção deste pedido foi fundamental para garantir força e amplitude, que será revertida na ampla divulgação internacional do que se passa no Brasil, dando visibilidade a um cenário de censura e perseguição política e ideológica.

“Em um contexo de flagrante escalada de ataques à liberdade de expressão no Brasil, é importante saber que existe um olhar atento das organizações internacionais, como a OEA, para o que está acontecendo no país”, opina Artur Romeu, dos Repórteres Sem Fronteiras. “A maior articulação da sociedade civil para denunciar o aumento das violações é um aspecto fundamental do combate à asfixia do espaço democrático”.

A CIDH, órgão independente e autônomo da OEA, realiza várias sessões por ano para discutir temas como este em toda a região. O órgão tem a incumbência de observar e promover a defesa dos direitos humanos, atuando como órgão consultivo da OEA neste tema. Cada sessão reúne centenas de defensores e defensoras dos direitos humanos no continente, além de delegações dos Estados constituídas por altas autoridades em matéria de direitos humanos, acadêmicos, dentre outros.

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