Interessante notar que muito antes da atual moda do ambientalismo e numa época em que as questões políticas dominavam o ambiente cultural e intelectual, o músico foi perspicaz em abordar esta temática.
Foi perspicaz porque, embora a ecologia ainda fosse abraçada apenas por um restrito nicho da sociedade, saltava aos olhos dos paulistanos o crescimento desordenado da cidade e o descaso do poder público com o meio ambiente, impermeabilizando as margens dos rios, construindo viadutos e pontes para o sucesso da indústria automobilística.
O polêmico minhocão, citado na música, por exemplo, foi construído em 1970. O metrô começou a funcionar em 1968.
A cidade descrita por Tom Zé, assolada pela ganância capitalista, é retratada como uma pessoa exausta e doente.
Botaram Tanta Fumaça
(Tom Zé/1973)
Intérprete: Tom Zé
Botaram tanto lixo,
botaram tanta fumaça,
Botaram tanto lixo
por baixo da consciência da cidade,
que a cidade
tá, tá tá tá tá
com a consciência podre,
com a consciência podre.
Botaram tanto lixo,
botaram tanta fumaça,
Botaram tanta fumaça
por cima dos olhos dessa cidade,
que essa cidade
tá, tá tá tá tá
está com os olhos ardendo,
está com os olhos ardendo.
Botaram tanto lixo,
botaram tanta fumaça,
botaram tanto metrô e minhocão
nos ombros da cidade,
que a cidade
tá, tá tá tá ta.
Está cansada,
sufocada,
está doente,
tá gemendo
de dor de cabeça,
de tuberculose,
tá com o pé doendo,
está de bronquite,
de laringite,
de hepatite,
de faringite,
de sinusite,
de meningite.
Está, se…
ta tá tá tá tá
com a consciência podre.
Botaram tanto lixo,
botaram tanta fumaça,
botaram tanta preocupação
nos miolos da cidade
que a cidade
tá, tá tá tá tá
está de cuca quente.