Mais do que certo está o deputado federal que classificou o ministro da fazenda, Paulo Guedes, como ‘tchutchuca’ dos bancos e ‘tigrão’ dos trabalhadores.
Não apenas Paulo Guedes é ‘tchutchuca’. O presidente Jair Bolsonaro também é, com agravante de ser entreguista do Brasil ao capital financeiro internacional.
Mas vamos nos ater à ‘tchutchuquice’ interna, que é a subordinação do governo aos ditames da elite econômica, principalmente aos bancos brasileiros e também estrangeiros.
Bolsonaro sancionou sem vetos, neste 8 de abril, o projeto que altera o cadastro positivo. As mudanças, aprovadas pelo congresso nacional, vigorarão daqui a seis meses.
O cadastro é um banco de dados para ‘reconhecer’ os consumidores que são bons pagadores. Ele existe há seis anos, mas, como sempre teve pouca adesão, resolveram impô-lo à força.
Agora, os bancos e outras instituições financeiras podem incluir o nome de consumidores nessa lista sem a necessidade de autorização prévia. Quem quiser sair tem que requerer.
Por outro lado, o caráter ‘tigrão’ do governo, sempre contra os pobres, veio através da medida provisória 873, editada na sexta-feira imediatamente anterior ao carnaval, 1º de março.
A maldição dificulta ainda mais o financiamento dos sindicatos pelos trabalhadores. Ela determina que as contribuições sejam pagas via boleto, em vez de desconto em folha.
Ao contrário da adesão praticamente obrigatória ao cadastro positivo, onde o cidadão tem que pedir para sair, a ‘mp’ sindical diz que o trabalhador tem que pedir para entrar no desconto em folha.
As duas medidas contemplam interesses dos bancos. O cadastro de pessoas físicas e jurídicas não passa de uma intervenção do sistema financeiro na vida do cidadão.
O cadastro pode levar ao mau uso dos dados pessoais e empresariais pelo sistema financeiro. Agride o sigilo bancário. Favorece as instituições financeiras. E viola a intimidade dos correntistas.
A ‘mp’ sindical, originalmente editada para esvaziar e enfraquecer os sindicatos, num momento em que lutamos contra a reforma da previdência, também beneficia os bancos.
Ao determinar que as contribuições sejam pagas por meio de boletos, o governo Bolsonaro consegue ser ‘tigrão’ e ‘tchutchuca’ ao mesmo tempo. Mata dois coelhos numa só cajadada.
‘Tigrão’ porque ataca a organização dos trabalhadores. ‘Tchutchuca’ porque, com isso, possibilita aos bancos cobrarem taxas administrativas das contribuições sindicais.
José Alberto Torres Simões ‘Betinho’ é vice-presidente do sindicato dos trabalhadores em transportes rodoviários de Santos e região