O ano político começou entre os dias 1º e 2 de fevereiro, com a posse dos deputados federais e senadores e a abertura dos trabalhos no Poder Legislativo, portanto, há 2 meses. Bolsonaro tomou posse no dia 1º de janeiro. Vai completar 3 meses de mandato. Desde a redemocratização não se via tanta confusão na república, em início de novo mandato presidencial.
Da posse do presidente da República até aqui não houve 1 semana em que alguma crise não tenha sido desencadeada pelo presidente ou alguém do seu micro entorno.
A mais recente envolve 4 personagens direta ou indiretamente relacionados ao presidente. O ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública; o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o 2º filho, vereador Carlos Bolsonaro; e o próprio presidente. Quem acompanha o debate político sabe qual foi o imbróglio. Assim, talvez não careça explica-lo aqui.
O fato é que a crise tem a ver com incompreensões políticas generalizadas. O ministro Moro, querendo holofotes e likes cobra de Maia que paute o “pacote anticorrupção e violência”. Não sabe o ministro que, em geral, o Congresso tem dificuldades de analisar, ao mesmo tempo, pautas muito complexas. A prioridade do mercado agora é a reforma da Previdência. Isto é, o mercado não está “preocupado” com a violência ou a corrupção. Quer é aprovar a reforma. O resto vem depois.
Traquejado na vida político-parlamentar, Maia sabe disso. Por isso, se irritou com o ministro de Bolsonaro. O presidente da Câmara está empenhado em aprovar a reforma da Previdência, matéria com a qual tem convergências, pois trata-se de liberal convicto, ideológico.
Sem compreender seu papel institucional, o presidente da República se perde em meio às fruticas da política. Ao invés de tentar apaziguar os ânimos assume lados e perde a oportunidade de ser mediador para não perder o foco sobre a agenda para a qual foi eleito.
Melhor para a oposição, que ainda está atordoada depois da derrota eleitoral, mas ao mesmo tempo não consegue tirar proveito substantivo das graves trapalhadas do governo. Menos mal para para o Planalto.
Formação do governo
Tendo optado pela montagem do governo por fora dos partidos políticos, o governo patina no Congresso, com a reforma da Previdência, sua pauta prioritária.
Por isso não consegue construir maioria robusta para tocar a reforma da Previdência no Congresso Nacional. Os partidos, em particular na Câmara, onde a proposta espera iniciar formalmente o debate na CCJ, não se sentem comprometidos em assumir a agenda do governo.
Estruturado sob coalisão partidária, o presidencialismo brasileiro e o processo político-institucional não podem prescindir dos partidos políticos, pois toda institucionalidade passa por essas organizações. Tendo inovado, agora o presidente parece não saber o que fazer para superar as dificuldades para a montagem da maioria parlamentar, a fim de sustentar sua agenda no Legislativo.
Confusão entre aliados
No Congresso, tem sido comum ver, ler e ouvir, na mídia ou nas redes sociais, aliados trocarem farpas e baterem boca contra ou a favor do governo.
A confusão mais recente é protagonizada pela líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP). Kataguiri defende o presidente da Câmara no entrechoque com o governo. Enquanto Hasselmann defende o presidente da República e acusa Maia de atrapalhar a vida do governo.
Sem maioria
Sem condições de engajar os partidos que em tese dão sustentação ao governo no Legislativo, o governo não consegue articular maioria e se perde em confusões laterais, que tem servido para impactar a agenda única do governo no Congresso.
A reforma da Previdência não é do Congresso. Esta pauta é do governo, que a enviou para análise do Legislativo no dia 20 de fevereiro. Mas antes de tudo, é do mercado, que há muito tempo intenta privatizar a Previdência Pública.
Por meio dos líderes do governo na Câmara, no Senado e no Congresso, o governo tem mecanismos para “tocar” sua agenda no Congresso. Não o faz porque falta-lhe as condições objetivas para tal. Faltam ideias e sobram confusões. Falta liderança e sobram vaidades. Falta conteúdo concreto e sobram bate-bocas inócuos.
Em meio ao vazio político-institucional, o presidente perde protagonismo e apoio político na sociedade, pois esta vai percebendo que o “mito” vai dando lugar à realidade, que lhe cobra ações concretas para os problemas concretos, que vão além das demandas do mercado.
Marcos Verlaine é Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap